O Excesso de Palavras Estrangeiras Incorporadas são uma Ameaça para a Língua Japonesa?


Palavras Estrangeiras Incorporadas são uma Ameaça para a Língua Japonesa

Palavras estrangeiras adaptadas para o japonês estão por toda parte no Japão. Seu uso extensivo levou até um homem de 71 anos de idade a procurar uma compensação de 1,41 milhões de ienes em junho de 2013, em razão do sofrimento emocional causado pelo uso excessivo de termos em inglês na grade de programação da emissora pública NHK.

O homem, que mora na província de Gifu, afirmou que sentia-se estressado devido à incapacidade de compreender as novas palavras introduzidas no vocabulário japonês, tais como “shisutemu” (システム) [system/sistema], “toraburu” (トラブル) [trouble / problema] e “komyunitii dezain” (コミュニティデザイン) [Community design / design comunitário].

Essa questão provocou muitas reações (positivas e negativas) entre japoneses e estudantes estrangeiros de japonês. Alguns disseram que é natural a língua evoluir e/ou se renovar a cada dia, ainda mais em um ambiente globalizado como esse que vivemos na atualidade, onde as palavras de outras línguas conseguem ser absorvidas com uma maior facilidade.

Mas nem todos estão de acordo com essa “modernização linguística”. Muitos afirmam que as palavras estrangeiras são desnecessárias, confusas e irritantes. Foi criado inclusive um movimento chamado “Nihongo o taisetsu ni suru kai” (日本語を大切にする会), cuja intenção é valorizar a língua japonesa e impedir essa inundação de “Loanwords” (estrangeirismos).

Excesso do Vocabulário Estrangeiro

O Excesso de Palavras Estrangeiras Incorporadas são uma Ameaça para a Língua Japonesa

Mas uma coisa todos concordam: A tendência de introduzir novas palavras no vocabulário japonês pode estar indo longe demais. O katakana (usado para palavras estrangeiras) tem aparecido com mais frequência, dificultando a compreensão de muitos nativos.

Muitas palavras tem sido introduzidas de forma precipitada e, consequentemente leva-se um tempo para serem assimiladas. Por outro lado, os estrangeiros reclamam que não conseguem entender os significados “ingleses”, já que muitos são distorcidos do original.

Dizem que há mais de 45.000 palavras estrangeiras incorporadas na língua japonesa, 90% das quais vieram do inglês. Não é de hoje que os japoneses adotam palavras estrangeiras. Portugueses e holandeses foram os primeiros ocidentais a deixarem sua contribuição no idioma, mas agora percebemos uma grande invasão de palavras derivadas do inglês.

Além disso, algumas palavras mudam totalmente seus significados quando entram na língua. Por exemplo, ao invés de se referir a alguém que é inteligente, “Sumāto” (スマート) [smart] significa “magro”. Morango em japonês é ichigo, mas quando se refere ao sabor de sorvete ou chiclete, a palavra “sutoroberi” (ストロベリ) [Strawberry] é comumente usada.

Creio que não há problema em emprestar uma palavra estrangeira quando uma equivalente não existe na língua japonesa. No entanto, parece ser totalmente desnecessário adicionar novos termos quando há palavras compatíveis já disponíveis na língua nativa.

Palavras Estrangeiras na Língua Japonesa

O japonês atualmente consiste de aproximadamente 33% de palavras de origem japonesa, wago 和語, 49% de palavras de origem chinesa, kango 漢語, e 18% de palavras estrangeiras incorporadas de outras línguas, gairaigo 外来語, incluindo palavras ocidentais de origem mista e as pseudo inglesas produzidas no Japão conhecidas como wasei eigo 和製英語.

O vocabulário estrangeiro inunda a língua japonesa em diversos meios de comunicação, desde gírias de internet até títulos de filmes. Os novos termos podem complementar e enriquecer o vocabulário japonês, mas o uso excessivo também pode estar afogando expressões japonesas que poderiam ser usadas perfeitamente em determinadas situações e contextos.

Os jovens tem feito cada vez mais uso do katakana, mesmo para escrever “wago” (palavras de origem japonesa). Alguns exemplos são “kakkoii” (カッコイイ) [bonito] e “megane” (メガネ) [óculos]. Para os mais velhos, o excesso de palavras escrita em katakana, por sua vez, pode dificultar a compreensão e sobrecarregar a leitura, tornando-a cansativa.

Os estrangeirismos na língua japonesa

estrangeirismos na língua japonesa

Em 2002, o Instituto Nacional de Linguagem e Lingüística Japonesa estabeleceu um Comitê de Palavras Estrangeiras, que propôs substituições de 176 termos importados que eram difíceis de entender por palavras equivalentes em japonês. Infelizmente, essa iniciativa não ganhou muita repercussão entre a população, e consequentemente não teve a resposta esperada.

A sexta edição do Kojien (広辞苑), considerado o dicionário japonês com maior autoridade, contém um total de 240.000 palavras. Enquanto isso, o Sanseidō kokugo jiten (三省堂国語辞典), conhecido por incluir neologismos, palavras de empréstimo e expressões informais, inclui 56.300 termos, dos quais 8.200 são abreviações com base no alfabeto romano.

Isso sugere que aproximadamente uma em cada 5 palavras no japonês advém de palavras estrangeiras incorporadas, cuja participação crescente está trazendo mudanças fundamentais na linguagem. O inglês, por exemplo, tornou-se mais prevalente no Japão após a Segunda Guerra Mundial, durante a ocupação liderada pelos Estados Unidos.

Isso foi seguido por um interesse crescente na cultura pop americana. O vocabulário moderno do país é cheio de palavras emprestadas, muitas das quais são mudadas para se encaixar na estrutura fonética japonesa. Algumas palavras inglesas usadas com frequência em japonês são “terebi” (テレビ) [Television], “rajio” (ラジオ) [radio] e “dejitaru” (デジタル) [digital].

Palavras Importadas Têm Status Superior?

Mas será que os japoneses consideram as palavras estrangeiras interessantes ou sofisticadas? Será que o uso de termos importados confere status para quem fala? Os japoneses, por um acaso, têm uma sensação de inferioridade em relação à cultura ocidental?


Acredito que essa teoria é infundada, pois os japoneses não só se orgulham da sua cultura e sua língua, como também buscam preserva-la de todas as maneiras possíveis. No entanto é inegável a admiração dos nipônicos pela cultura ocidental, especialmente americana.

Apesar disso, existe uma outra teoria mais plausível. Desde que a internet surgiu, assim como computadores, tablets, programas e smatphones originalmente configurados em inglês, aumentou as oportunidades de estarmos em contato com palavras escritas nesse idioma.

Além disso, as novas gerações estão cada vez mais interessadas em aprender inglês. Isso é compreensível, afinal o inglês é considerada a língua universal, capaz de abrir muitas portas no campo profissional. Muitos estudantes japoneses se empenham para estudar inglês e prestar exames como o TOIEC (Test of English for International Communication).

Compreensão da Linguagem para os Japoneses

Se aprender palavras estrangeiras incorporadas pode ser extremamente confuso para estrangeiros, não é realmente muito mais fácil para a população japonesa. Desde que estas palavras estrangeiras não são escritas mais em caracteres chineses, os japoneses não conseguem facilmente adivinhar seus significados caso ainda não as conheçam.

Além disso, as palavras estrangeiras estão sendo introduzidas no Japão de uma forma meteórica, e muitas vezes por modismo, caindo em desuso rapidamente, não sobrando tempo para a absorção total na linguagem. Apesar dos movimentos realizados, especialmente pelos idosos, para conter o fluxo de palavras estrangeiras no japonês, a loucura continua.

Embora esta “ocidentalização” da língua japonesa seja fortemente criticada nos últimos anos, todas as sociedades têm suas próprias maneiras de expressar questões sociais através de estrangeirismos, e quase sempre existe muita polêmica sobre o assunto.

O que você pensa sobre esse tema? Acha que o excesso de palavras estrangeiras pode comprometer a língua japonesa? Compartilhe conosco nos comentários! 🙂

Fontes: Nippon.com, Citrusjapan.co.jp, nippaku.wordpress.com

4 Comentários

  1. Vic

    Eu acho que a incorporação em excesso de palavras estrangeiras na língua japonesa pode sim comprometer a essência do idioma, isso pode fazer, mesmo que aos poucos, com que os kanjis sumam da cultura japonesa. Sei que existem milhares de kanjis, mas ainda existe essa possibilidade.

  2. Marina

    Acho que para essa discussão seria necessário pesquisas mais aprofundadas de linguistas e historiadores, sociólogos.
    A ocupação dos estadunidenses gerou, efetivamente, mudanças irreversíveis no Japão. Mudanças políticas, econômicas, sociais. E a outros níveis, de costumes, vocabulário, etc. Se olharmos pela perspectiva das mudanças tecnológicas e econômicas, os EUA promoveram o desenvolvimento industrial, mas e se olharmos pela perspectiva das revoltas sociais causadas e sufocadas pela presença estadunidense da ilha? E se olharmos pela perspectiva da guerra da Coréia e do Japão como escoadouro de mercadorias? São mudanças complicadas. Entrar na discussão valorativa é difícil. Melhor vermos os impactos dessas mudanças e o que elas podem representar ou representaram historicamente. Prever o futuro também é fora de cogitação.

    É fato que os EUA destruiu grande parte do vocabulário nipônico, esfacelando escritos milenares com as bombas de Hiroshima e Nagasaki, por exemplo. E o que isso acarretou?! Dá pano pra manga essa discussão.

    Gostei da proposta do artigo. Arriscada, complicada e interessante!

  3. Carlos Abreu

    Para mim é bem simples, a língua é algo vivo, se alimenta do dia-a-dia e também sufoca e mata o que não é mais utilizado… não se trata de regularizar o uso. O próprio Japão teve várias reformas e algumas bem drásticas. Uma vez testemunhei uma senhora japonesa que voltou ao Japão (após viver 40 anos no Brasil) conversando com um parente. Não conseguiram sem entender…

  4. CYB3R-SH4D0W

    Pior coisa que poderiam ter feito: Inundar o vocabulário japonês com palavras inglesas lidas e escritas com sotaque japonês. Isso não faz sentido nenhum, não consegui entender palavra alguma em inglês que foi citada em romaji (apenas com a palavra original em seguida eu consegui compreender). “Sutoroberi”? onde que isso é parecido com Strawberry? WTF!? essa frescura só serve pra dificultar a compreensão dos nativos e dos visitantes de outros países, lamentável.

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