Stalking no Japão: estatísticas, leis e casos que chocaram o país

Stalking no Japão

Entenda sobre o stalking no Japão, com dados da polícia, leis em vigor e casos famosos que revelam os desafios no combate à perseguição obsessiva.

O termo stalking — muitas vezes traduzido como perseguição obsessiva — refere-se a comportamentos repetidos de assédio que invadem a privacidade e a segurança de alguém.

No Japão, essa forma de violência, chamada de sutōkā (ストーカー) — que pode incluir seguir, ligar repetidamente, monitorar online ou aproximar-se fisicamente — tem ganhado cada vez mais atenção pública, autoridades investigativas e mídia.

Apesar de sua imagem de sociedade segura, o país enfrenta desafios reais e crescentes nesse âmbito.

O que dizem os dados recentes

Segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Polícia (NPA) do Japão, o número de casos de stalking em que a polícia interveio alcançou um recorde em 2024:

Foram registrados 1.341 casos em que a polícia tomou ação relacionada à stalking ou violação da lei anti-stalking, um aumento de 24,1% em relação a 2023 — o maior número desde a revisão da lei em 2016.

O total de ordens de restrição emitidas sob a lei anti-stalking subiu 23%, atingindo 2.415, pela primeira vez ultrapassando a marca de 2.000. Aproximadamente 60% dessas foram ordens de emergência para proteger vítimas em risco iminente.

As consultas à polícia sobre stalking permaneceram elevadas, com mais de 19.000 relatos registrados, uma indicação de que o problema continua prevalente.

Esses números ilustram que, apesar de legislação e mecanismos de proteção estarem em vigor, o problema persiste e vem aumentando — ou pelo menos sendo relatado com mais frequência.

A legislação japonesa e o combate ao stalking

O Anti-Stalking Law (Lei de Controle de Stalking) foi implementado no ano 2000 após um caso que chocou o Japão: o assassinato de Shiori Ino, uma estudante que foi morta em 1999 em Okegawa, na província de Saitama, após meses de perseguição por um ex-namorado que contratou um assassino para atacá-la.

Esse caso — conhecido no país simplesmente como “o caso Shiori Ino” — expôs graves falhas nas respostas legais e policiais da época e levou a mudanças legislativas e maior conscientização pública sobre a violência de perseguição.

Desde então, a lei anti-stalking tem sido revista ao longo dos anos para refletir novas formas de assédio, incluindo o uso indevido de dispositivos de localização e tecnologia digital, ampliando a definição de comportamento proibido.

Casos notórios que atraíram atenção pública

Além do trágico caso de Shiori Ino, outras situações recentes também evidenciaram os riscos do problema:

O caso de Saaya Suzuki

Este caso ocorrido em 2013 ganhou notoriedade porque a vítima, Saaya Suzuki, uma estudante de 18 anos, foi esfaqueada e morta por um ex-namorado stalker em frente à sua casa em Mitaka, poucas horas depois de ter denunciado o homem à polícia.

O caso gerou um debate nacional sobre a necessidade de respostas mais rápidas em casos de perseguição (stalking) no Japão

O caso de Asahi Okazaki

Em 2024 / 2025, o Japão ficou chocado com a morte de Asahi Okazaki, uma jovem de cerca de 20 anos que havia feito diversas denúncias à polícia sobre um ex-namorado que a perseguia.

As autoridades posteriormente encontraram seu corpo na residência do suspeito em Kawasaki, levando a críticas públicas sobre a forma como as denúncias de stalking são tratadas e à revisão interna de procedimentos policiais.

Esse episódio reacendeu o debate sobre a necessidade de respostas mais robustas e eficazes das forças de segurança quando confrontadas com sinais claros de perigo.

Stalking a celebridades

Outro tipo de caso que atrai atenção midiática no Japão envolve perseguição de figuras públicas. Por exemplo, um homem foi preso em Tóquio após perseguir repetidamente a personalidade de mídia Haruna Kojima, acompanhando-a fora de eventos e posteriormente sendo detido por violar a lei de controle de stalking.

Outro caso que ganhou repercussão foi o de um stalker que estudou minuciosamente uma selfie que Ena Matsuoka, cantora do grupo pop japonês Tenshi Tsukinukeni Yomi, postou em rede social.

Analisando o reflexo nos olhos da vítima e usando o Google Street View e o Goople Maps, o japonês descobriu em que estação de trem ela estava. Ele passou a frequentar a estação diariamente até encontra-la e a seguiu até o local onde ela mora.

O perseguidor entrou na residência dominou a vítima e a tocou de “forma indecente”. Ele foi preso duas semanas depois. Ena sofreu ferimentos leves no rosto.

Casos como esses mostram como o stalking pode afetar tanto pessoas comuns quanto figuras conhecidas, ressaltando a ubiquidade e a gravidade do problema.

Desafios e discussões em torno do combate ao stalking

Apesar dos dados oficiais indicarem uma maior atuação policial — com mais ordens de restrição e prisões — ainda há desafios reconhecidos:

Casos não registrados: muitas vítimas optam por não levar denúncias à polícia por medo, vergonha ou descrença na eficácia da resposta policial, o que sugere que os números oficiais podem ser apenas a ponta do iceberg.

Reincidência: cerca de 8% dos casos interceptados envolvem reincidência do agressor, indicando a necessidade de estratégias mais centradas na prevenção e reabilitação.

Proteção efetiva: mesmo com ordens de restrição emitidas, impedir um perseguidor muitas vezes exige acompanhamento contínuo e integração entre unidades de polícia, apoio psicológico e serviços comunitários.

Um olhar mais amplo sobre cultura e segurança

O Japão, frequentemente citado internacionalmente como um país com baixos índices de crimes violentos, enfrenta nesse campo algo que não é exclusivo à sua sociedade: a luta para equilibrar proteção dos direitos individuais com a resposta eficaz a condutas predatórias persistentes.

Especialistas e grupos de apoio às vítimas continuam a pressionar por mais recursos, formação policial e campanhas públicas que encorajem vítimas a procurar ajuda sem estigmas.

Conclusão

Stalking no Japão não é apenas um número nas estatísticas — trata-se de uma forma de violência psicológica e física que pode evoluir para tragédias se não for levada a sério.

Os dados mais recentes mostram um aumento nas ações policiais e nas ordens de restrição, reflexo tanto de mais ocorrências quanto de maior conscientização e denúncias por parte das vítimas.

Casos emblemáticos como os de Shiori Ino, Saaya Suzuki e Asahi Okazaki lembram que, por trás de cada número, existe uma vida — e que a sociedade e as instituições precisam trabalhar continuamente para proteger quem encontra-se vulnerável.

Como Denunciar

Se alguém estiver em uma situação de stalking no Japão, a principal recomendação é ligar para a polícia discando 110. Organizações como a TELL Japan também oferecem recursos e apoio às vítimas.

Fontes: japantimes.co.jp, asahi.com, nippon.com

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Sou apaixonada pelo Japão e sua cultura. Resolvi criar esse blog com o intuito de fazer com que mais e mais pessoas conheçam essa cultura tão rica, incrível e fascinante!

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