O Destino Trágico do Albatroz Japonês

Albatroz de cauda curta no Japão

O destino trágico do albatroz japonês
As ilhas Senkaku são um grupo de pequenas ilhas desabitadas, que vem sendo a causa de muitas brigas entre o Japão e seus países vizinhos como China e Taiwan. Desabitadas é modo de falar, pois um dia elas já foram muito povoadas pelos albatrozes, chamados no Japão como Ahōdori (アホウドリ).

Ahōdori significa literalmente “pássaro estúpido”, o que soa bastante ofensivo a meu ver até porque é uma ave marinha com habilidades de voo fantásticas, embora sejam desajeitados em terra firme. Conseguem lançar voos em longa distância sem bater as asas e são capazes de voar milhares de quilômetros em busca de comida.

Boa parte de suas vidas é sobre o mar, exceto na época da reprodução e são consideradas as maiores aves marinhas no Japão: Seu comprimento pode chegar a 1 metro, enquanto que a sua envergadura pode atingir mais de três metros. O Ahōdori tem uma vida longa e podem viver entre 50 a 80 anos.

As Ilhas Senkaku e a Ilha Torishima eram os únicos lugares do mundo na qual essas aves encontravam as circunstâncias ideais para se reproduzirem. Nesses locais distantes da civilização, eles achavam estar distantes dos predadores e inimigos naturais. Mal sabem eles, que o maior predador se chama “Bicho Homem”.

Ahodori

Ahōdori, uma espécie em extinção

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, existem cerca de 3 mil albatrozes de cauda curta vivendo no Japão. Embora existam outras espécies como o albatroz de patas negras, albatroz errante e Laysan Albatross, somente o albatroz de cauda curta é protegido por ser considerado uma espécie Ameaçada de extinção.

Mas porque essas espécies estão ameaçadas de desaparecer? A partir do final do século XIX, os ahōdoris eram abatidos em massa para a retirada das suas penas, o que provocou uma redução dramática em sua população. Este abate em massa, juntamente com as erupções vulcânicas ocorridas eventualmente nas ilhas onde se reproduziam, praticamente, os levou à extinção dessas aves marinhas.

Acredita-se que Tatsushiro Koga (1856-1918), um pioneiro das ilhas Senkaku e Han’emon Tamaoki (1838-1910), empresário de Torishima, embora aclamados por muitos como heróis, sejam os principais responsáveis pela quase extinção dessas espécies, devido às suas atividades comerciais das penas dessas aves.

O massacre em Torishima

Torishima é uma pequena ilha de 2,7 km de largura e cerca de oito quilômetros de extensão, localizado a cerca de 600 km ao sul de Tóquio.

No inverno, o local era o ponto de reprodução dos Ahodoris. Em 1888, Han-emon Tamaoki descobriu que as penas do Ahōdori eram muito valorizadas nos Estados Unidos e na Europa para serem usados em chapéus e outras finalidades decorativas no século 19.

Com isso, resolveu mudar-se para a ilha, juntamente com uma dúzia de pessoas para realizar o abate em massa para coletar as penas dos pobres albatrozes. Uma ave fornecia cerca de 400 gramas de penas e eram capturados cerca de 200 mil aves por ano. Nessa época, 600 gramas de penas valia cerca de ¥ 15 apenas.

A maldição do Ahodori

Com a escassez da espécie, as penas do Ahōdori valorizaram e 600 gramas chegou custar ¥ 80. Han’emon enriqueceu muito às custas desse comércio, que infelizmente trouxe consequências desastrosas para os albatrozes.

Para piorar ainda mais a situação, em 1902, ocorreu uma grande erupção vulcânica em Torishima, matando todos os 125 habitantes da ilha, que se instalaram lá para capturar os albatrozes. Algumas pessoas atribuíram o desastre como sendo uma maldição do Ahōdori.

Em 1949, uma equipe de proteção aos animais procurou vestígios das aves em Torishima, porém sem sucesso. No entanto, em 1951, um bando de albatrozes, de 30 a 40 membros, foi encontrado próximo à Torishima e desde então, a espécie vem sendo protegida. Em 1962, o Ahōdori se tornou Tesouro Nacional Especial.

Já em 1993, o Ahōdori entrou para a lista de animais selvagens raros, protegidos pela lei de Conservação de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens. Segundo estatísticas, em 1990, a população dos albatrozes estava em torno de 1.200 aves. Já em 2010, estima-se que havia 2.570 albatrozes em Torishima, Península de Izu.

Ahoudori, os pássaros estúpidos 4

A tragédia silenciosa nas Ilhas Senkaku

Enquanto a tragédia do ahōdori em Torishima é bem documentado nos anais do reino animal, uma história semelhante se repetia nas remotas Ilhas Senkaku, embora não muito divulgada. Em 1884, Tatsushiro Koga descobriu que as ilhas Senkaku eram repletas de albatrozes. Sem pensar duas vezes, ele mandou uma equipe para explorar as colônias de aves marinhas e outros recursos marinhos valiosos.

Sabendo da rentabilidade do seu empreendimento, ele pediu permissão ao governo Meiji em 1885 para explorar as ilhas Senkaku.

Na época, o ministro Aritomo Yamagata foi favorável, porém o ministro Kaoru Inoue aconselhou-os a não provocar o Império Chinês, por causa das questões territoriais sobre as ilhas.

Após a vitória na Guerra Sino-Japonesa, em 1895, o Japão oficialmente reivindicou a posse das ilhas Senkaku.

Neste mesmo ano, o governo japonês finalmente deu permissão para Tatsushiro Koga para explorar as ilhas, embora ele e seus homens já estivessem coletando as penas de ahōdori mesmo sem o mandato oficial.

Mas com o apoio do governo, Tatsushiro se sentiu ainda mais motivado em suas ambições. Em 1897, ele e seus trabalhadores deslocaram-se para Uotsurishima e em 1898 para Kubashima, com o objetivo de capturar cerca de 160 mil albatrozes, dizimando drasticamente a população da espécie.

Albatroz de cauda curta

Saldo do massacre em massa:

Em um censo realizado em Kubashima em 1900, havia apenas cerca de 30 aves. Já em Uotsurishima, havia um número maior de Ahōdoris, incluindo filhotes, mas com a captura que ocorreu depois, sua população continuou a despencar.

Com isso, a coleta comercial das penas dos albatrozes estava comprometida, o que fez com que Tatsushiro mudasse o rumo dos seus negócios para a mineração e pesca de atum.

No entanto, em 1940 ele decidiu retirar sua equipe das ilhas Senkakus e elas se transformaram novamente em um território desabitado. Em 1939, um ano antes da retirada completa, não havia sequer um único ahōdori habitando as ilhas de Uotsurishima, Minamikojima e Kitakojima.

Equipes de pesquisa foram enviadas às ilhas Senkaku nos anos de 1950, 1952 e 1963 com o objetivo de encontrar colônias de ahōdori, no entanto não havia mais nenhum vestígio das aves. A ganância dos homens, sem o mínimo respeito pelos animais, levou infelizmente à extinção dos albatrozes na Ilhas Senkaku.

O pássaro estúpido e injustiçado

O Ahodori é só mais um exemplo de animais que entraram para a lista das espécies ameaçadas de extinção por pura ganância humana. Com certeza esse fato não é novidade pra ninguém, afinal assim como o ahōdori, inúmeras outras espécies no mundo inteiro têm tido o mesmo destino trágico devido à ganância dos homens.

Embora, seu nome em japonês seja literalmente “pássaro estúpido”, eu me pergunto: Quem é o estúpido? O pobre Albatroz, vítima de tanta crueldade humana ou os homens sem escrúpulos que massacram os animais por causa de dinheiro e poder, sem o mínimo respeito pela vida dos animais? Nem é preciso responder não é?!

4 Comentários

  1. Douglas

    Não sabia que existem poucos deles, como quase sempre aparecem em algum anime, então achei que fosse comum vê-los em qualquer parte do Japão.
    Esses pássaros são lindos, tomara que não deixem de existir!
    Abraços!

  2. Marcos de Souza

    Nao adianta………..
    EU AMO O JAPÃO.

  3. Japão em Foco

    Oi Douglas!
    Infelizmente existem poucos deles, se formos comparar com a quantidade que havia no passado, mas como o governo está empenhado em preservá-los, pode ser que ainda haja esperanças de rever esse quadro. Infelizmente 47 espécies de animais já foram extintas no Japão, e outro 303 estão ameaçadas de extinção, como a lontra japonesa, leão marinho japonês, baleia, entre outros. E como cada animal faz parte de um ecossistema, a falta dele pode desequilibra-lo e acabar comprometendo outras espécies. Abraços!

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