Japão avalia endurecer regras para cidadania e residência permanente

Japão estuda endurecer regras para cidadania e residência permanente, incluindo mais tempo de residência, exigência de japonês e integração comunitária.
Apesar da percepção de que o Japão mantém políticas restritivas em relação à imigração, dados mais recentes mostram um cenário mais complexo. Em 2024, 72,4% das 12.248 solicitações de cidadania japonesa feitas por estrangeiros residentes foram aprovadas.
Além disso, até o final de junho do mesmo ano, 932.100 estrangeiros viviam no Japão com status de residência permanente, que permite morar e trabalhar no país por tempo indeterminado, mantendo a cidadania de origem — um sistema comparável ao green card dos Estados Unidos.
No entanto, esse cenário pode mudar em breve. O governo japonês estuda endurecer os critérios tanto para a cidadania quanto para a residência permanente, após um pedido formal da primeira-ministra Sanae Takaichi para revisão das regras atuais.
O que pode mudar na cidadania japonesa
Atualmente, a legislação exige que o estrangeiro tenha residido no Japão por pelo menos cinco anos para ser elegível à cidadania japonesa.
A proposta em análise sugere dobrar esse período para dez anos.
A regra atual tem sido criticada por parlamentares japoneses por ser menos rigorosa do que a exigência para residência permanente, que já requer dez anos de permanência no país.
Como a cidadania concede direitos mais amplos — como direito ao voto e impossibilidade de revogação —, críticos afirmam que o modelo atual é incoerente.
Residência permanente: foco em idioma e integração
No caso da residência permanente, o comitê não pretende reduzir o tempo mínimo de residência exigido. Pelo contrário, a proposta é tornar o processo mais rigoroso, adicionando novos critérios.
Entre eles está a exigência de proficiência funcional em japonês, algo que hoje não é obrigatório. Atualmente, o pedido é avaliado com base no tempo de residência, comportamento legal e estabilidade financeira.
Além disso, o comitê estuda recomendar que os candidatos participem de cursos de integração comunitária, com foco em convivência harmoniosa com a população local e redução de conflitos culturais.
Como será avaliado o japonês?
Até o momento, não foi mencionada a exigência de exames formais, como o JLPT. No processo de cidadania, a proficiência linguística já é avaliada de forma prática, durante entrevistas presenciais.
Como atualmente não existe entrevista no processo de residência permanente, a inclusão dessa etapa é vista como a solução mais provável para avaliar a capacidade de comunicação do candidato.
Especialistas avaliam que o nível exigido deve ser básico — suficiente para lidar com situações cotidianas — especialmente considerando que o candidato já teria vivido ao menos dez anos no Japão antes de se tornar elegível.
A introdução de um requisito de proficiência em japonês para residência permanente talvez seja o ponto mais simbólico da reforma.
Atualmente, é perfeitamente possível obter esse status sem falar japonês fluentemente — desde que o candidato cumpra exigências financeiras e legais.
No entanto, à medida que o número de estrangeiros cresce, também aumentam os desafios de convivência em comunidades locais. O governo parece entender que não basta morar no Japão: é preciso conseguir se comunicar e participar da sociedade.
Questões legais em aberto
Um ponto controverso é que o governo não planeja alterar explicitamente a lei de cidadania. Defensores da mudança argumentam que, como a legislação atual define apenas um período mínimo, o governo poderia exigir na prática um tempo maior sem alterar a lei.
Ainda não está claro se essa lógica também pode ser aplicada à criação de novos requisitos, como proficiência linguística, sem aprovação parlamentar.
As recomendações finais do comitê devem ser apresentadas em janeiro, podendo redefinir o futuro da imigração de longo prazo no Japão.
Mas a mensagem política já está clara: O Japão não está fechando as portas aos estrangeiros. Está apenas deixando mais explícito o que espera de quem deseja ficar.
Para muitos residentes estrangeiros, o recado é direto: aprender japonês e se integrar à comunidade deixará de ser apenas um diferencial — passará a ser um requisito.
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