O sociólogo japonês que estuda a conexão entre humanos e gatos na sociedade moderna

O sociólogo japonês que estuda a conexão entre humanos e gatos na sociedade moderna

O sociólogo Manabu Akagawa, da Universidade de Tóquio, estuda como a relação entre humanos e gatos reflete mudanças profundas na sociedade japonesa.

Em uma era em que a convivência entre humanos e animais de estimação atinge níveis sem precedentes, o professor Manabu Akagawa, da Graduate School of Humanities and Sociology da Universidade de Tóquio, tem dedicado sua carreira a investigar não apenas os grandes temas sociais, como sexualidade e os problemas demográficos do Japão, mas também o que pode parecer à primeira vista um fenômeno curioso: a relação profunda e cada vez mais complexa entre humanos e gatos na sociedade contemporânea.

Quem é Manabu Akagawa?

Manabu Akagawa é professor de sociologia na Universidade de Tóquio, onde atua desde a década de 1990 e desenvolve pesquisas em várias áreas da sociologia, incluindo problemas sociais e, mais recentemente, a “sociologia dos gatos” (cat sociology).

Sua formação e trajetória acadêmica o tornaram uma voz respeitada tanto em debates tradicionais quanto em questões inovadoras que dialogam com as mudanças sociais atuais.

Embora seus interesses iniciais incluíssem temas como sexualidade e as causas da queda da taxa de natalidade no Japão, Akagawa viu no crescente protagonismo dos gatos nas vidas humanas um campo fértil para análises sociológicas aprofundadas.

No vídeo abaixo, o professor Manabu Akagawa conta um pouco sobre seu estudo, sobre o sofrimento que sentiu quando sua primeira e amada gata que ele chamava de Nyanko-sensei faleceu e mostra sua relação com seus três gatos atualmente.

🐱 O que é a sociologia dos gatos?

A “sociologia dos gatos” proposta por Akagawa vai além da simples observação de hábitos de donos de felinos. É um campo que busca entender como a presença dos gatos nas famílias e na vida urbana reflete e influencia transformações sociais mais amplas.

Akagawa parte da hipótese de que — mais do que outros animais de estimação — os gatos no Japão contemporâneo ocupam um papel simbólico e emocional profundamente ligado às mudanças estruturais da sociedade moderna.

Segundo ele, a popularidade dos gatos está relacionada a fatores como:

● mudanças demográficas, incluindo famílias menores e idosos que vivem sozinhos;
● novas formas de convivência urbana, em que espaços menores favorecem animais de estimação mais independentes;
● e a redefinição do significado de “família”, em que o vínculo emocional com animais ultrapassa antigas fronteiras sociais.

Isso significa que a ascensão dos gatos como companheiros e membros da família não é apenas um capricho cultural, mas um espelho das necessidades afetivas e sociais de uma população que enfrenta desafios inéditos.

Da “mania dos gatos” ao fenômeno social

O sociólogo japonês que estuda a conexão entre humanos e gatos na sociedade modernaImagem: Pakutaso.com

O Japão tem experimentado um crescimento constante na população de gatos domésticos.

Em 2021, por exemplo, o número estimado de gatos ultrapassou a população de cães e até mesmo o número de crianças no país — um indicativo claro de que os felinos encontraram um lugar singular na vida urbana moderna japonesa.

Akagawa argumenta que esse fenômeno — além de gerar um imenso impacto econômico em mercados como alimentação, produtos pet e cafés temáticos, conhecido informalmente como “nekonomics” — revela uma evolução nas relações emocionais humanas.

Para muitos, os gatos substituem ou complementam laços afetivos que antes eram predominantemente construídos em famílias tradicionais.

Pesquisas e descobertas

Entre os estudos associados à sociologia felina em que Akagawa está envolvido, destaca-se o foco em experiências de cuidado no fim da vida dos gatos, um aspecto que se torna cada vez mais relevante à medida que mais pessoas vivem longos períodos com seus animais de estimação.

Essa pesquisa explora como donos percebem, enfrentam e internalizam o luto e os significados sociais da perda de um gato querido — uma experiência emocional que reflete transformações profundas nas relações humanas com outras espécies.

Esse tipo de estudo mostra que o vínculo entre humanos e gatos não é apenas um tema afetivo ou cultural isolado, mas um fenômeno social complexamente entrelaçado com questões de identidade, mortalidade, papel familiar e bem-estar emocional — áreas centrais para a compreensão das sociedades contemporâneas.

A importância da sociologia dos gatos hoje

Imagem: Pakutaso.com

A pesquisa de Akagawa ilumina por que tantas pessoas experimentam uma conexão tão intensa com seus gatos — incluindo sentimentos de perda profunda quando esses animais morrem — e como essa conexão reflete tendências sociais maiores.

Em um mundo em que relações humanas tradicionais estão mudando e onde a busca por afeto e companhia é urgente, entender a dinâmica entre humanos e gatos pode, na verdade, revelar muito sobre nossas próprias necessidades, ansiedades e formas de viver juntos.

Conclusão

O professor Manabu Akagawa mostra que aquilo que poderia ser encarado como um fenômeno trivial — o amor pelos gatos — é, na verdade, um campo de estudo sociológico que ajuda a explicar transformações profundas na sociedade moderna.

Ao analisar a relação entre humanos e seus felinos, ele não está apenas estudando animais domésticos — está investigando o que significa amar, pertencer e encontrar sentido em uma época de mudanças sociais rápidas e conectividade emocional redefinida.

Essa abordagem inovadora faz de Akagawa um dos nomes mais interessantes da sociologia contemporânea no Japão e um pesquisador cuja obra pode ressoar profundamente tanto entre acadêmicos quanto entre amantes de gatos — e de relações humanas.

Imagem do topo: Pakutaso.com

Author photo
Publication date:
Sou apaixonada pelo Japão e sua cultura. Resolvi criar esse blog com o intuito de fazer com que mais e mais pessoas conheçam essa cultura tão rica, incrível e fascinante!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *