Ama, as lendárias mergulhadoras japonesas com tradições milenares


Ama, as lendárias mergulhadoras japonesas

Ama (海女 em japonês), significa literalmente ‘mulher do mar’ e se refere às mergulhadoras que há mais de 2.000 anos utilizam técnicas especiais.

O Japão é conhecido por sua cultura extremamente rica e única, que busca preservar tradições milenares que correm o risco de desaparecer com a modernização do país. Uma delas é a tradição das mergulhadoras Ama (海女), que perdura há mais de 2.000 anos.

Trata-se de um costume milenar onde mulheres mergulham utilizando técnicas especiais para prender a respiração por até 2 minutos de cada vez. Elas trabalhavam por até 4 horas por dia para coletar algas marinhas, frutos do mar como abalone, mariscos e depois pérolas.

Ama, as lendárias mergulhadoras japonesas com tradições milenares Imagem: photoAC

A tradição ainda é mantida em muitas partes costeiras do Japão, no entanto, as práticas originais dessas deusas do mar foram amplamente perdidas ao longo do tempo. Mas é inegável as habilidades físicas dessas mergulhadoras que conseguiam descer em mergulho livre a uma grande profundidade em água fria vestindo nada mais do que uma tanga e óculos de proteção.

Ama (海女 em japonês), significa literalmente ‘mulher do mar’ e foram descritas no ano de 750 na mais antiga antologia de poesia japonesa, a Man’yoshu. Embora os números tenham diminuído nos últimos tempos, ainda existem Amas que ainda preservam essa tradição antiga e especial.

Por quase dois mil anos, as mulheres que vivem ao longo da península japonesa estabeleceram um meio de vida extraordinário mergulhando nas profundezas do Oceano Pacífico em busca de abalone, ostras, pérolas, algas marinhas e outros mariscos.

Utilizando técnicas especiais, elas mergulhavam em profundidades de 9 metros, prendendo a respiração por até dois minutos. A Ama então ressurgia na superfície, abrindo levemente a boca para emitir um assobio baixo conhecido como isobue.


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Eles trabalhavam até quatro horas por dia em pequenos turnos. Os japoneses acreditam que as mulheres são mais adequadas para esta carreira única devido à camada extra de gordura que têm em seus corpos, que as protegia durante os longos períodos debaixo d’água.

As mulheres também são elogiadas por sua natureza autossustentável e capacidade de viver de forma independente, tornando-as mais adequadas à profissão. As Ama passam grande parte de sua vida no mar, e muitas delas sededicam a essa arte até os 80 anos de idade.

Após a Segunda Guerra Mundial, quando a indústria do turismo no Japão começou a crescer, os visitantes começaram a questionar a nudez das mergulhadores Ama. Eventualmente, elas foram obrigadas a se cobrir. Supõe-se que os regulamentos de saúde e segurança também tenham desempenhado um papel na introdução de equipamentos mais avançados na carreira da Ama.

Apesar disso, ainda existem algumas Ama que mantêm o uniforme original, preservando assim a simplicidade e beleza da Ama. Tradicionalmente, Ama usava apenas um fundoshi (tanga) e um tenugui (bandana). Elas usam uma corda na cintura, ligando-as ao barco; Ao puxar a corda, sinalizam à sua tripulação que elas estavam prontas para subir à superfície.


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Quando Mikimoto Kōkichi, um empresário japonês responsável pela indústria de pérolas no Japão, iniciou sua criação, ele contratou mergulhadoras Ama experientes para o seu negócio. Elas o ajudaram no cultivo de pérola em Mikimoto Pearl Island, perto da cidade de Toba.

Isso manteve a tradição viva, embora pequenas mudanças tenham ocorrido. Mikimoto Ama cobria o corpo inteiro com trajes brancos e usava um barril de madeira como boia. Ao contrário das Amas tradicionais que estavam conectados a um barco, as Mikimoto Ama eram amarradas à boia por uma corda onde também a usavam para descansar entre os mergulhos.

Ama, as lendárias mergulhadoras japonesasImagem: photoAC

O papel das Mikimoto Ama era recolher as ostras do fundo do mar, inserir algo em seu núcleo para que pudessem produzir pérolas e em seguida as devolvia cuidadosamente ao fundo do mar, em um local onde ficassem protegidas de tufões, maré vermelha, etc.

Toba, a cidade que preserva a cultura Ama

O número de mergulhadoras Ama diminuiu significativamente, caindo para 1.081 na Península de Shima (província de Mie), a área onde mais da metade de toda a população de pescadoras e mergulhadoras Ama está localizada. Este número é apenas 1/6 do que era há 60 anos.

A área de Osatsu, na cidade de Toba orgulha-se de ser o lugar com mais mergulhadoras Ama na Península de Shima; onde vivem atualmente cerca de 140 mulheres que se dedicam a esta tradição, segundo dados de 2007 do Toba Sea-Folk Museum (Museu do Folclore do Mar).

Toba Sea-Folk Museum (Museu do Folclore do Mar)


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Este museu abriga cerca de 60.000 itens reais, além de inúmeros modelos e fotos sobre as mergulhadoras Ama, pesca em geral e questões ambientais. O edifício do museu foi projetado por ninguém menos que o famoso arquiteto japonês, Hiroshi Naito. Integrando totalmente a paisagem natural envolvente, as salas de exposição em madeira são acolhedoras e relaxantes.

Pedras “Ishi Ikari”

Passeando por Osatsu, os visitantes certamente notarão pedras de formas estranhas na frente de casas e edifícios. Essas pedras são chamadas de “Ishi Ikari” e já foram usadas como pesos para ajudar as mergulhadoras Ama a chegarem com segurança ao fundo do mar.

Ishi Ikari Imagem: photoAC

Embora essas pedras não sejam mais usadas para esse fim, elas são colocadas regularmente do lado de fora das casas ou Minshuku (pousada em estilo japonês) para indicar que uma Ama ativa reside no interior do local. Essas pedras possuem símbolos de treliça e estrela em sua superfície.

Esses símbolos são chamados de “Seman e Doman”, e dizem que são amuletos que protegem as Ama contra perigos ou fenômenos não naturais durante seus longos mergulhos.

Mergulhadoras Ama no Japão Imagem: photoAC

O “Seman” em forma de estrela, é desenhado com um único traço. Acredita-se que os demônios não têm oportunidade de entrar nessa marca, pois ela começa e termina no mesmo ponto.

Já o símbolo da treliça, “Doman”, afasta o mal observando os demônios com seus numerosos olhos. Segundo dizem, estes símbolos se originaram de yin e yang. Devido à natureza perigosa de seu trabalho, as Ama bordam estes símbolos em seus tradicionais trajes brancos Isogi.

Ama no Matsuri (海女の祭り)

Ama no Matsuri (海女の祭り) é um festival noturno que ocorre na cidade de Minamiboso, província de Chiba. O festival é realizado anualmente desde 1964, em meados do mês de julho e é apreciado como uma tradição local que anuncia a chegada do verão.

O Festival Ama homenageia aqueles que se sacrificaram no mar, além de oferecer orações por segurança e fertilidade a Benzaiten, objeto de adoração do Santuário de Itsukushima. Quase 100 mergulhadoras Ama vestidas com túnicas brancas nadam no mar à noite com tochas.

Dorama Ama Chan (あまちゃん)

Para quem se interessou pelo tema, vale a pena conferir Amachan (あまちゃん), uma série dramática exibida em 2013 pela televisão japonesa.

Conta a história de Aki Amano, uma colegial de Tóquio que se muda para a costa de Sanriku na região de Tohoku para se tornar uma mergulhadora Ama.

Amachan não foi apenas um sucesso de audiência, mas também trouxe benefícios econômicos para a região de Tohoku, sendo considerado um fenômeno social. O dorama também ganhou prêmios como por exemplo o Galaxy Award, de melhor programa de televisão de 2013.

Fontes: theculturetrip.com, zekkeijapan.com
Imagem do topo: photo-ac.com

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