Família Fukuda: da destruição do tsunami à vida autossuficiente nas montanhas do Japão

Após o tsunami de 2011, a família Fukuda perdeu tudo e escolheu viver nas montanhas de forma autossuficiente, sem depender da sociedade moderna.
Na manhã de 11 de março de 2011, a vida da família Fukuda mudou para sempre. Morando próximo ao mar, em uma das regiões atingidas pelo Grande Terremoto do Leste do Japão, eles sentiram o chão tremer violentamente — mas nada poderia prepará-los para o que viria em seguida. O tsunami que avançou sobre a costa levou casas, ruas, memórias… e pessoas.
Por pouco, os Fukuda não foram engolidos pelas águas. Conseguiram escapar a tempo, mas perderam praticamente tudo: a casa, bens acumulados ao longo de uma vida e, de forma irreparável, parentes, amigos e vizinhos.
O trauma daquela tarde não terminou quando o mar recuou. Ele passou a habitar a memória da família — e redefiniu completamente o rumo de suas vidas.
Uma decisão radical após o trauma
O local onde ficava a casa da família Fukuda. Não sobrou nada. O detalhe da privada na parte superior indica a altura que a onda chegou. (Imagem: Reprodução: Youtube)
Enquanto muitos sobreviventes tentavam reconstruir o que havia sido perdido, a família Fukuda tomou uma decisão incomum: não voltar a viver perto do mar e não reconstruir a mesma vida de antes. Em vez disso, escolheram as montanhas.
Eles se mudaram para a zona rural de Satoyama, localizada na província de Iwate, uma região remota e hostil do Japão, longe dos grandes centros urbanos e dos confortos modernos. A escolha não foi apenas prática, mas profundamente simbólica.
Segundo a própria família, viver em um ambiente difícil era uma forma de nunca esquecer a força destrutiva da natureza e as vidas que foram perdidas naquele dia.
As montanhas se tornaram, ao mesmo tempo, refúgio e lembrança.
Vida com zero ienes: independência total dos sistemas modernos
Hoje a família Fukuda composta por quatro pessoas vive com um total de zero ienes em despesas fixas. (Imagem: Reprodução Youtube)
Hoje, a família Fukuda vive de uma forma que desafia os padrões da sociedade japonesa contemporânea. Eles afirmam viver com zero ienes em despesas fixas, sem contratos de água, gás ou eletricidade.
● A energia elétrica é gerada por painéis solares instalados na propriedade.
● A água vem de poços naturais e da captação da chuva.
● Não há dependência de gás encanado ou serviços públicos convencionais.
Essa escolha não é um protesto contra a sociedade, mas uma busca consciente por autonomia.
Após vivenciarem o colapso repentino das infraestruturas durante o desastre de 2011, os Fukuda passaram a acreditar que depender menos dos sistemas modernos é uma forma de segurança e liberdade.
Mais de 50 tipos de vegetais e uma terra que sustenta
Na vasta propriedade nas montanhas, a família cultiva arroz e mais de 50 tipos diferentes de vegetais, adaptados às estações e ao clima rigoroso da região.
O que consomem vem, em grande parte, da própria terra.
O cultivo não é apenas um meio de sobrevivência, mas um aprendizado contínuo.
Cada colheita reforça uma lição aprendida após o tsunami: a importância de saber produzir o próprio alimento e respeitar os ciclos da natureza.
Excedentes são conservados, trocados ou compartilhados, mantendo uma relação simples e direta com o que consomem.
Um estilo de vida moldado pela memória
Para a família Fukuda, viver em um ambiente hostil é uma maneira de manter viva a consciência da fragilidade da vida (Imagem: Reprodução: Youtube)
Diferente de movimentos modernos de “minimalismo” ou “vida off-grid” por escolha estética, o estilo de vida da família Fukuda nasce da dor, da perda e da reflexão profunda após uma tragédia nacional.
Eles não buscam romantizar a autossuficiência.
Pelo contrário: fazem questão de lembrar que sua escolha é resultado de uma experiência extrema. Para eles, lembrar é uma forma de honrar quem se foi.
Viver em um ambiente hostil, onde tudo exige esforço, é também uma maneira de manter viva a consciência da fragilidade da vida.
Do anonimato às telas: a história mostrada no YouTube
Acesse o Link do Youtube
(Ative as legendas em português para uma melhor compreensão).
A rotina da família Fukuda ganhou visibilidade ao ser apresentada no canal do YouTube 「1日見てもいいですか?」(1-nichi mite mo īdesu ka?), “Posso assistir por um dia?” , especializado em mostrar famílias e indivíduos que vivem de forma autossuficiente no Japão.
O canal não apenas documenta o dia a dia, mas dá voz às motivações profundas por trás dessas escolhas. No caso dos Fukuda, o público conheceu não apenas um modo de vida alternativo, mas uma história marcada por sobrevivência, luto e reconstrução.
Uma lição que ecoa além do Japão
A história da família Fukuda vai além da curiosidade sobre um estilo de vida diferente.
Ela levanta questões universais:
● Até que ponto dependemos dos sistemas modernos?
● O que realmente precisamos para viver?
● Como tragédias moldam valores e escolhas?
Em um país frequentemente associado à alta tecnologia e urbanização, os Fukuda mostram um outro Japão — silencioso, resiliente e profundamente conectado à terra.
Mais do que sobreviver ao tsunami de 2011, eles transformaram a tragédia em um modo de vida consciente, onde cada dia vivido nas montanhas é também um ato de memória, respeito e autonomia. Se você gostou da história deles siga a família Fukuda no instagram.
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