A triste razão pela qual não vemos muitos filmes de piratas japoneses


Piratas japoneses - One Piece

Apesar de One Piece abordar o tema pirata, mesmo que de forma fantasiosa, percebemos que há poucos filmes japoneses que abordam esse tema baseados em fatos reais. Mas há algumas razões para isso. Confira!

Oda Nobunaga foi um daimyo (senhor da guerra japonês) proeminente no século 16, famoso por suas táticas de guerra e por ser um assassino sanguinário. Talvez isso tenha ofuscado outros detalhes incríveis sobre essa figura histórica, como sua conexão com piratas japoneses.

Os Estados Combatentes e os Piratas

Em 1576, Nobunaga organizou um bloqueio marítimo para cortar seus inimigos de suprimentos vitais, mas foi derrotado durante a primeira Batalha de Kizugawaguchi em Osaka. Foi aqui que sua marinha foi incendiada pelas forças combinadas do clã Mori e dos piratas Murakami.

Este último era o grupo de piratas mais poderoso que operava no Mar Interior de Seto. Eles eram mais como governantes soberanos de seu próprio domínio naval do que bandidos.

Eles eram tão poderosos que as fontes históricas muitas vezes se referem a eles, não como kaizoku (“piratas”), mas sim como suigun (literalmente “exército da água”).

Como exército, eles seguiam um conjunto rígido de regras, permitindo que navios passassem por seu território, desde que todos pagassem e cumprissem suas leis. O grupo era composto por três clãs, incluindo o Kurushima, que se aliou a Oda Nobunaga.

Isso fez com que os outros dois – Innoshima e Noshima – os denunciassem. A animosidade entre os clãs de piratas japoneses permaneceu até 2013, quando o livro de ficção histórica Murakami Kaizoku no Musume (“A Filha dos Piratas Murakami”) foi publicado.

Murakami Kaizoku no MusumeImagem: Amazon.com

Como parte da turnê promocional, o autor, Ryo Wada, ajudou a organizar um encontro entre os descendentes dos três clãs piratas. Deu-lhes a oportunidade de apertar as mãos e reconciliar-se 450 anos depois.

Durante anos especulou-se sobre um filme baseado na obra de Ryo Wada, mas até agora nada se materializou. Pensando bem, há muito poucos filmes japoneses sobre piratas. Muitas vezes, quando os piratas são incluídos em um enredo de algum filme ou série no Japão, eles tendem a ser relegados a papéis coadjuvantes ou mantidos em segundo plano.

Mesmo a série de mangá e anime de enorme sucesso de Eiichiro Oda, One Piece, fica bem distante da história japonesa. É mais uma história de fantasia baseada em tropas comuns de piratas do que qualquer outra coisa que seja baseada em fatos reais.

Setouchi Kaizoku Monogatari

O filme mais recente sobre piratas japoneses foi provavelmente o filme de aventura de Kenichi Omori de 2014 “Setouchi Kaizoku Monogatari“ (também conhecido como “ Piratas Samurai” ). Embora existam referências à força naval de Murakami, ela ocorre principalmente nos tempos modernos e é essencialmente apenas uma versão japonesa de “The Goonies”.

Por que há tão poucos filmes sobre uma das partes mais interessantes da história japonesa? Infelizmente, a resposta pode ser porque “pirata japonês” é considerado um tema sensível no cenário político atual, uma vez que as relações não vão nada bem com os países vizinhos.

Wako, os piratas do Mar Interior de Seto

Navio temático pirata no Lago Ashi, Hakone, Kanagawa Navio temático pirata no Lago Ashi, Hakone, Kanagawa (Depositphotos)

Quando falamos sobre “piratas japoneses”, incluímos as forças navais do Mar Interior de Seto, principalmente os Wako (conhecidos como Wokou em mandarim e Waegu em coreano).

Assim como o clã Murakami, eles eram uma poderosa força pirata que governava vastas extensões de mar e oceano. No entanto, enquanto o exército Murakami era quase exclusivamente japonês, os Wako eram uma confederação de várias nacionalidades e etnias.

Junto com os piratas japoneses, havia muitos grupos diferentes da China continental e da Coréia, indígenas Ainu de Hokkaido, hakka taiwanês e até alguns portugueses. De fato, de acordo com o Ming – shi, uma crônica oficial da dinastia Ming, apenas cerca de um terço dos Wako eram japoneses. No entanto, não é assim que o grupo é retratado em certos círculos políticos.

Os wako de nacionalidade japonesa eram formados por rōnin (samurais sem mestre), comerciantes ou contrabandistas japoneses. O significado do termo wakō era “bandidos do país de Wa”, se referindo ao Japão. Outro significado para definir Wako, seria “piratas anões”.

Piratas japonesesImagem: photo-ac.com

Os Wako estiveram ativos entre os séculos 4 e 16 principalmente no Mar do Japão e muitas vezes negociaram com a China e a Coréia, mas alguns grupos nacionalistas os têm usado como um símbolo para promover o sentimento antijaponês. Eles são retratados como samurais que massacraram aldeias, mas foram derrotados pelas forças combinadas da China e da Coréia.

De fato, se você procurar por arte representando os Wako, uma quantidade surpreendentemente grande os retrata como uma força puramente japonesa que está se engajando em batalhas com marinhas chinesas ou coreanas ou depondo suas armas na frente delas.

Do lado japonês, também houve vários nacionalistas de direita que usam a imagem do Wako para atiçar o sentimento anticoreano ou antichinês. Até mesmo a história dos piratas Murakami foi usado para isso uma ou duas vezes, já que sua vitória sobre Nobunaga resultou no desenvolvimento dos primeiros encouraçados japoneses e isso se tornou a base para os navios de guerra atakebune usados ​​​​durante a invasão da Coréia no final do século 16.

Piratas japoneses - One PieceImagem: wallpaperbetter.com

É uma pena que a história dos Wako tenha sido deturpada assim, pois seria muito interessante ve-la sendo contada em filmes e documentários. Foram eles que ajudaram a introduzir pólvora e armas de fogo no Japão. Foram eles que trouxeram Francisco Xavier para o país e ele, por sua vez, introduziu o arquipélago nipônico ao cristianismo.

O Wako japonês provavelmente também adorava uma versão feminina de Hachiman, o Deus da Guerra. Algumas teorias até sugerem que a antiga tradição das tatuagens de mão de Okinawa, que desapareceu há 120 anos, surgiu parcialmente por causa dos Wako, já que aparentemente eles tinham o hábito de sequestrar mulheres de Okinawa e vendê-las para casas de prazer.

Sabendo que os piratas não gostavam de mulheres que tinham tatuagens nas costas das mãos, muitas se tatuavam propositalmente para evitar que fossem capturadas pelos Wako. Tudo isso seria material mais do que suficiente para centenas de filmes.

God of War - Deus da Guerra (2017)

Infelizmente, filmes com os Wako como o filme chinês, “God of War” (Deus da Guerra), de 2017, geralmente os retratam como invasores japoneses implacáveis. Isso poderia explicar por que o Japão se mantém longe das histórias de piratas, ou por que, quando as abordam, optam por algo completamente fictício ou com um enredo fantasioso como One Piece.

Bem, é o quadrinho mais vendido de todos os tempos, então eles devem saber o que estão fazendo, não é? Gostou de conhecer mais sobre os piratas japoneses? Comente abaixo! 🙂

Fonte: tokyoweekender.com
Imagem do topo: www.wallpaperbetter.com

2 Comentários

  1. Dalcy Muniz

    q matéria curiosa não sabia q o livro tinha feito isso com os clãs! mas eu acho q pirata caricato é um pouco difícil de aparecer, por eles considerarem clãs, até no ocidente havia o termo corsário da coroa no lugar de pirata, goukaiger foi uma boa série e ainda teve especial de 10 anos! Na franquia sengoku basara tem um dos samurais surfando numa ancora, onde foi minha primeira confirmação q haviam “piratas samurais”

  2. Roger

    Eu notei esse filme no Netflix “Deus da Guerra”. Já sabia um pouco sobre os piratas asiáticos que assolavam as antigas dinastias da China e o fato de reescreverem a história com os comunistas chineses vilanizando os piratas como sendo totalmente japoneses. Até entendo vilanizar o Japão imperial na 2WW, mas a partir daí começar uma ampla campanha de desumanização para alimentar o próprio nacionalismo, é um pouco irônico sabendo que estão cometendo o mesmo erro que o mesmo Japão Imperial fez. Curioso que eu acho que me lembro que os piratas chineses conseguiram uma boa fama pelos mares asiáticos, houve até um “princesa” pirata! Se os próprios chineses soubessem aproveitar a sua própria e rica história… obs: Um reino/clã vietnamita pirata também fez um bom estrago no Mar do sul da China, se não me engano.

    Mas atualmente temos de nos preocupar com os novos e incontáveis frotas de piratas chineses que realizam pesca industrial predatória nas Zonas Econômicas de países alheios e destruindo tudo…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *