O Grande Terremoto de Kanto: Cartões Postais da Tragédia


Cartões Postais O Grande Terremoto de Kanto

Este mês de setembro marca o 100º ano desde o Grande Terremoto de Kanto, que continua sendo um dos desastres naturais mais devastadores do Japão.

Seguido por incêndios destrutivos e ondas gigantescas do tsunami, esta tragédia levou a mais de 100.000 mortes e destruição urbana. Desde então, Tóquio se reergueu, passando por enormes mudanças em muitos aspectos, incluindo o desenvolvimento social, político e urbano.

A catástrofe iniciou-se em 1° de setembro de 1923. Em menos de três dias, metade da capital do Japão tornou-se nada menos do que um deserto sombrio e escuro coberto de escombros. Foi dito que muitas pessoas morreram quando seus pés ficaram presos no asfalto derretido.

Destruição na área de Honjo a partir do Edifício Dai-Ichi Mutual Life Insurance Company, 1923. Crédito: Arquivo Digital de Materiais Raros da Universidade de Kyoto

Dentre as muitas fontes históricas sobre o Grande Terremoto de Kanto, encontra-se cartões postais. Ao contrário dos cartões postais de hoje que retratam belos pontos turísticos, eram gravuras que retratavam ruínas, cadáveres e pessoas andando pelos escombros.

Poucos dias depois que o grande terremoto arruinou a paisagem da cidade, cerca de 300 vendedores desses cartões-postais se alinharam nas ruas. Uma pergunta que vem à mente é o que significava a circulação de tais fotografias da catástrofe naquela época.

O boom do cartão postal do início dos anos 1900

Durante os períodos de guerra, os cartões postais tornaram-se um meio de comunicação popular. Por serem compactos e baratos, os cartões postais eram uma maneira conveniente de notificar os entes queridos sobre a localização e o bem-estar do remetente.

A popularidade dos cartões postais continuou após a Guerra Russo-Japonesa. Cartões postais do pós-guerra retratavam cenas da guerra e foram mantidos como recordação.

Área de Ogawa do telhado do edifício Dai-ichi Mutual Life Insurance Company, 1923. Crédito: Arquivo Digital de Materiais Raros da Universidade de Kyoto

Na época também se popularizou o bijin ehagaki, que significa “cartões postais de belezas”. Eram cartões postais esteticamente agradáveis ​​retratando gueixas e atrizes de cinema.

O crescimento da indústria de impressão após a guerra deu origem ao boom do cartão postal no Japão no início do século 20, aumentando a utilidade do cartão postal não apenas como uma ferramenta de comunicação, mas também como algo comemorativo e estético.

Como surgiram os cartões postais do grande terremoto de Kanto

O fogo feroz em Yurakucho não pode ser extinto apesar dos esforços extremos, 1923. Crédito: Arquivo Digital de Materiais Raros da Universidade de Kyoto

Um terremoto de magnitude 7,9 não conseguiu impedir a tendência dos cartões postais. Pelo contrário, criou mais demanda. As consequências do Grande Terremoto de Kanto tornaram-se um tema popular para cartões postais na época. Fotografias em preto e branco de moradores de Tóquio em busca de refúgio, bem como vistas aéreas de prédios destruídos, eram comuns.

Esses cartões postais não foram produzidos para fins estéticos, mas como uma grande ferramenta de divulgação de informações. Vendo como as empresas jornalísticas ficaram com seus escritórios em ruínas, os editores de cartões postais tentaram preencher a lacuna.

O Incêndio no Teatro Imperial, 1923. Crédito: Arquivo Digital de Materiais Raros da Universidade de Kyoto

Um número muito pequeno de editoras teve a sorte de sobreviver, sendo uma delas a Mitsumura Printing, que aproveitou seus recursos restantes para produzir cartões postais.

Embora tenham sido impressos principalmente para divulgar informações, os cartões postais do Grande Terremoto de Kanto também tinham um lado sombrio e problemático. Em alguns casos, eles transcenderam a comunicação, com títulos e imagens sensacionalistas.

Pessoas fugindo do fogo, 1923. Crédito: Arquivo Digital de Materiais Raros da Universidade de Kyoto

Fotografias mostrando a devastação do terremoto tornaram-se procuradas por editores e pelo público. Fotógrafos e editores de cartões postais correram para tirar fotos de várias cenas e obtiveram um lucro considerável com a venda de imagens da tragédia.

A proibição oficial de mostrar figuras de cadáveres foi ignorada por vendedores de cartões postais e gravuras que continuavam a publica-las sem pudor nenhum. Alguns desses cartões postais estão hospedados no site Duke University Libraries. Caso deseje, você pode entrar no link para dar uma olhada, mas aviso que algumas cenas são bastante fortes.

Criando Memória Coletiva

Casas desmoronaram no grande terremoto de Tóquio, 1923. Crédito: Arquivo Digital de Materiais Raros da Universidade de Kyoto

A demanda por cartões postais com cenas do terremoto não foi apenas sensacionalista. Parte disso foi impulsionado pela necessidade honesta de homenagem.

Esses cartões postais também contribuíram para a construção da nação. Durante um período em que os rádios não eram difundidos e a mídia impressa foi interrompida, cartões postais e fotografias eram de fato o principal meio de informação da população.

Destruição em Shirokya, perto da intersecção Nihonbashi, 1923. Crédito: Arquivo Digital de Materiais Raros da Universidade de Kyoto

Os postais transmitiam não só a condição da cidade, mas também o luto das pessoas. Ver imagens de famílias ao lado de suas casas queimadas evocou uma sensação de ressonância emocional que consternou a população do restante do país e de outros países também.

A circulação de cartões postais retratando a angústia da cidade e de seu povo resultou em uma experiência coletiva. Embora o terremoto tenha atingido apenas um lado do país, a experiência visual através desses cartões postais espalhou o sentimento de empatia por toda a nação.

Lamentando a perda de 31.000 pessoas em uma montanha de restos mortais cremados, 1923. Crédito: Arquivo Digital de Materiais Raros da Universidade de Kyoto

Cultura Postal Hoje

Quase um século depois, os cartões-postais perderam seu domínio como uma ferramenta popular de comunicação e informação. Agora temos smartphones para cumprir essas funções – uma alternativa conveniente e rápida.

Mas isso não significa que os postais tenham perdido completamente o seu encanto. Hoje, os postais tornaram-se lembranças, uma forma de recordar a nossa visita a pontos turísticos ou museus de arte.

Apesar da mudança de função dos cartões postais ao longo da história, uma coisa que permanece constante é sua capacidade de nos ajudar a recordar.


Link do vídeo (YouTube)

Fonte: tokyoweekender.com
Créditos das imagens: Arquivo Digital de Materiais Raros da Universidade de Kyoto

1 Comentário

  1. Henrique Ehlers Silva

    Cultura não ocupa espaço. Fatos bons ou ruins devem ser divulgados sempre contribuem para a melhoria de nossos procedimentos.

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