Photobook colorido mostra o cotidiano antes da bomba em Hiroshima


Photobook colorido mostra o cotidiano antes da bomba em Hiroshima

Um livro com fotos tiradas antes da guerra tornou-se um best-seller no Japão. Ele foi produzido por uma aluna e um professor da Universidade de Tóquio.

Em um novo álbum de fotos, uma garota, usando um vestido curto e um penteado curto, tem um grande sorriso no rosto. Outra garotinha ao lado dela encara algo a seus pés. Em um banco perto das crianças, uma mulher dorme com a cabeça apoiada no braço.

A foto foi tirada em 9 de agosto de 1936, no terreno do templo Jisenji, localizado na área onde hoje se encontra o Parque Memorial da Paz de Hiroshima.

Ele captura um momento de paz logo antes do feriado Bon. Nove anos depois, logo acima do templo Jisenji, uma bomba atômica explodiu. O templo tornou-se um crematório improvisado.

Uma foto que captura crianças no terreno do templo Jisenji e lanternas foi tirada em 9 de agosto de 1936, no bairro Naka de Hiroshima. (Cortesia de Anju Niwata)

O que diferencia a fotografia são as cores vivas, como se tivesse sido tirada ontem. É uma das 355 fotos monocromáticas tiradas em Hiroshima e outras cidades durante o período antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial, as quais um grupo de professores universitários e estudantes resolveram compila-las em um livro e disponibilizá-lo na Amazon.jp por 1.650 ienes.

Usando inteligência artificial (IA) e conduzindo entrevistas com sobreviventes e outros, o grupo coloriu as fotos em preto e branco. Memórias e imaginação trabalharam juntas para tornar as cores realistas. Os membros do grupo chamaram o processo de “descongelamento de memórias”.

A VIDA ANTES DA BOMBA ATÔMICA

A foto, tirada no verão de 1936 no estúdio fotográfico Takahashi, mostra a família desfrutando de uma melancia de verão com parentes. O garoto cobrindo o rosto com uma casca de melancia é Hisashi. (Cortesia de Takahashi Hisashi)

Anju Niwata, 18, uma caloura da Universidade de Tóquio, obteve a foto em preto e branco em março de 2020. iwata, que nasceu em Hiroshima, passou uma semana de junho colorindo a foto. Primeiro, ela baixou a imagem para um computador pessoal, depois usou IA para colorir.

A imagem captura uma lanterna, um item essencial  em Hiroshima durante o Bon, um festival budista de meados do verão para dar as boas-vindas às almas dos mortos.

A tradição ainda é forte em Hiroshima, então Niwata não precisou da ajuda da IA ​​para colorir o item em particular. Ela o coloriu manualmente em amarelo e vermelho.

Niwata, no entanto, não tinha certeza de quais cores ela deveria usar para os padrões desenhados em lanternas de papel penduradas.

Ela perguntou a Tokuso Hamai, 86, que morava perto do templo. “A lanterna estava escura porque ficava pendurada lá o ano todo”, Hamai disse a ela.

Para as roupas infantis, Niwata buscou na internet a tendência e o clima social na hora de escolher as cores.

Uma foto colorida de um grupo desfrutando de uma noite com vista para o Salão de Promoção Industrial da Prefeitura de Hiroshima, que hoje é a Cúpula da Bomba Atômica (Cortesia do Projeto Kioku-no-kaito)

Fotos em preto e branco podem nos desconectar do passado. É como se houvesse um muro separando a história que logo desaparece com a adição de cores. “Percebi que havia uma vida normal naquela época, não muito diferente da nossa hoje”, disse Niwata.

AS MEMÓRIAS VOLTAM

Uma foto tirada sob as flores de cerejeira no parque Chōjuen na primavera de 1935. Hamai Tokusō é o menino de boné branco sendo segurado nos braços de sua mãe, o quarto a partir da esquerda. (Cortesia de Hamai Tokusō)

Niwata começou a entrevistar sobreviventes da bomba atômica e a coletar assinaturas para a abolição das armas nucleares em 2017, quando era aluna do primeiro ano na Hiroshima Jogakuin Senior High School.

Por meio das atividades, ela conheceu Hidenori Watanabe, professor da Universidade de Tóquio, que liderou os projetos denominados Arquivo de Nagasaki e Arquivo de Hiroshima.

Os projetos usam mapas 3D na internet e apresentam depoimentos orais de sobreviventes do bombardeio atômico e fotos para documentar as atrocidades nos mapas.

Watanabe, 45, ensinou a Niwata uma técnica para usar IA para colorir fotos monocromáticas de tempos de guerra. O processo envolve entrevistar pessoas capturadas ou relacionadas a essas imagens.

Quando questionado sobre uma foto, um entrevistado pareceu repentinamente começar a se lembrar de detalhes vividamente. Era como se suas memórias que haviam sido congeladas por um longo tempo fossem repentinamente descongeladas, disse Niwata.

Uma foto original em preto e branco de crianças se exercitando ao longo de um rio em Hiroshima (Cortesia de Keisuke Imanaka)

A maioria das fotos do álbum foi tirada em Hiroshima. Mas o grupo contatou arquivos da mídia de notícias e adicionou fotos tiradas durante a guerra em Tóquio, Osaka e Fukuoka, entre outras áreas.

Uma busca tão difundida fez Niwata e outros perceberem rapidamente que apenas algumas fotos tiradas na área do hipocentro de Hiroshima sobreviveram até hoje.

Para o livro, Niwata e outros se esforçaram para selecionar fotos que capturassem a vida cotidiana e momentos normais, como crianças comendo melancia e desfilando em um carro alegórico com um chimpanzé.

Quero que as pessoas percebam como uma guerra pode atrapalhar a vida cotidiana das pessoas comuns”, disse ela. Niwata também espera que as fotos inspirem as crianças de hoje, despertando a curiosidade delas e instigando-as a perguntar aos seus avós sobre a guerra.

Fonte: asahi.com

2 Comentários

  1. Melissa Cezar Milanesi

    Adorei ver essas fotos, um passado doloroso, que precisamos conhecer e nunca mais repetir.

  2. Fernando Silva

    Olá, como posso partilhar no Instagram?
    Cumprimentos
    Fernando Silva

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