Há 11 anos, marido mergulha à procura da esposa que desapareceu no tsunami
Yasuo Takamatsu, 65 anos, perdeu sua esposa, Yuko, quando o tsunami atingiu Onagawa, na província de Miyagi. Ele a procura incansavelmente desde então.
Em 11 de março de 2011, um dos maiores tremores já registrados desencadeou um enorme tsunami, matando mais de 18.000 pessoas e provocando colapsos catastróficos na usina nuclear de Fukushima Daiichi. Dezenas de milhares de pessoas ainda não voltaram para casa.
A esposa de Yasuo Takamatsu, Yuko, é uma delas. O casal se conheceu no início dos anos 80. Seu chefe havia marcado um encontro às cegas e eles se apaixonaram rapidamente. Ele disse: “Adorei o sorriso e a natureza gentil dela”. Yuko adorava pintar com aquarela e só mostrava seu trabalho ao marido, preocupada que os outros a julgassem com muita severidade.
Eles eram um casal normal, gostando de sair juntos para fazer coisas divertidas nos finais de semana. As coisas mudaram em 11 de março de 2011. Neste mesmo dia, Yasuo Takamatsu havia buscado Yuko para almoçarem juntos e depois a levaria de volta no banco que ela trabalhava.
Yasuo tinha acabado de se aposentar das forças armadas e agora que tinha mais tempo livre, ele gostava de levar e buscar sua esposa no trabalho apesar de ser próximo da casa deles.
Após o almoço, Yasuo levou-a de volta ao trabalho. Durante o pequeno trajeto, conversaram sobre o que teriam para o jantar, logo mais a noite. Após deixar sua esposa no banco e se despedir dela, Yasuo levaria a mãe de Yuko ao hospital para um check-up de rotina.
Dez minutos depois e apenas alguns quilômetros de distância, a van de Yasuo deu uma guinada para o lado. Ele parou e esperou. Mas quando achou que as coisas tinham acalmado, o chão começou a vibrar e sua van se moveu violentamente de um lado para o outro.
Nos seis minutos seguintes, as áreas próximas à Sendai, em Miyagi começaram a tremer sem parar. As placas de rua e semáforos caíram e a energia acabou. Janelas quebraram. Alarmes de carro dispararam. Várias casas desabaram, enquanto outras pegaram fogo.
Yasuo e Yuko passaram suas vidas vivendo nesta nação propensa a terremotos e outras catástrofes. Yasuo sabia que deveria dirigir para terrenos mais altos, pois havia um risco onipresente de tsunami. Estacionou perto de uma fazenda nas montanhas e deixou o rádio ligado.
Minutos depois, o rugido arrepiante e baixo das sirenes do tsunami ecoaram no centro da cidade. O terremoto ocorreu a 40 km da costa e foi mais de 15 vezes mais forte do que a bomba nuclear que atingiu Hiroshima. A onda atingiria exatamente 20 minutos depois.
Eu quero ir pra casa
Yasuo e Yuko Takamatsu com o filho Yohei e a filha Rina. Foto: Hiromi Tanoue
Em pânico, Yasuo finalmente conseguiu falar com os filhos, que confirmaram que haviam alcançado um terreno mais alto. A esposa de Yasuo não respondeu imediatamente. Ele ficou sentado olhando para o telefone, rezando para que ela estivesse segura. Finalmente, ele recebeu uma mensagem de Yuko: “Você está bem? Eu quero ir para casa.”
Ele enviou rapidamente uma resposta, mas não obteve resposta. Os avisos iniciais previam uma onda de cerca de 3 metros. Mas o que chegou foi uma onda gigantesca de 12 metros de água gelada que varreu a cidade, submergindo e levando casas e tudo que via pela frente.
Carros e caminhões eram jogados ao redor como brinquedos em uma banheira. Várias horas depois, a água recuou totalmente. Yasuo correu para a beira-mar. Ele correu pelas ruas congestionadas, desesperado para encontrar sua amada esposa.
No entanto, sua busca foi interrompida por autoridades pois havia produtos químicos derramados e riscos de incêndio em todos os lugares. Eles colocaram em quarentena toda a área.
A cidade de Sendai estava destruída. Ele correu para um hospital lotado. Cada andar estava inundado com gritos e gemidos de dor. Então, por dias e semanas, ele vasculhou os escombros e voltava ao hospital todos os dias, esperando que ela fosse encontrada.
Os momentos derradeiros
Imagem: Youtube / Reprodução
A mensagem de Yuko seria a última mensagem que ela enviou a Yasuo. O chefe de Yuko viu que um tsunami se aproximava e ordenou que todos os funcionários subissem no telhado.
Imagens de vídeo mais tarde mostraram os 13 funcionários amontoados no telhado. Águas apocalípticas flutuavam abaixo deles, carregando telhados e detritos. O prédio desabou pouco depois e todos foram arrastados pela força do tsunami. Apenas uma pessoa sobreviveu.
Durante a limpeza da cidade, eles encontraram o celular de Yuko e o entregaram a Yasuo. Por incrível que pareça, ele ainda funcionava. Yasuo resolveu então abrir as mensagens de texto e encontrou uma mensagem que não havia sido enviada: “O Tsunami é desastroso”.
Ele então rolou para cima para ler sua mensagem final novamente, “eu quero ir para casa.” Essa mensagem ficou na memória de Yasuo e o assombra até agora. Yasuo prometeu a si mesmo que enquanto seu corpo movesse ele não desistiria de encontrar sua amada esposa.
Sinto falta da grande parte de mim que era ela
E agora? Hoje, em 2022, você ainda encontrará Yasuo mergulhando nas águas agitadas e geladas ao redor do Porto Onagawa. Ele mergulha duas vezes por mês e faz isso desde 2013.
Ele passou dois anos procurando por terra, vasculhando escombros nas praias. Ele então passou a procurar no fundo do oceano, pois achava que talvez ali era sua chance de encontra-la. Quando começou, ele não era nem um bom nadador, muito menos mergulhador.
Yasuo soube de uma escola de mergulho, High Bridge, que estava vasculhando o fundo do oceano e relataram encontrar corpos em carros sob escombros. Ele entrou em contato com o instrutor que ouviu sua história e o convidou para ir à sua loja para começar as aulas (de graça).
Yasuo ficou com medo nos primeiros meses. Sob as águas cintilantes, havia uma cena infernal: caminhões abatidos, placas quebradas, sapatos de criança, pedaços de casas e, ocasionalmente, corpos. Além dos perigos que abundavam nestas águas geladas.
Imagem: Youtube / Reprodução
Mas Yasuo se aperfeiçoou no mergulho e, com o tempo, tornou-se apto para o mergulho autônomo. Yasuo acabou comprando equipamentos de mergulho e começou a fazer isso sozinho. Ele costuma nadar pelas profundezas escuras da baía fria, onde destroços, carros, bicicletas e outros lembretes do pior dia de sua vida continuam congelados no tempo.
“Penso que ela pode estar em algum lugar próximo”, disse ele. Além de seus mergulhos solo, uma vez por mês ele se junta às autoridades locais enquanto realizam buscas submarinas de cerca de 2.500 pessoas cujos restos mortais ainda estão desaparecidos em toda a região.
Ele ainda sofre por ela. Suas palavras soam como um romance de Nicolas Sparks, sem o atrevimento, e cheios de isolamento e desespero. “Ela sempre estará ao meu lado, física e mentalmente. Eu sinto falta dela. Sinto falta da grande parte de mim que era ela.”
Ancorado em seu amor por sua esposa, Yasuo volta a nadar nas profundezas. Todo mês, e provavelmente por muitos anos, ele continuará. Até encontrá-la, Yasuo vai procurar. Ele vai honrar o último desejo de sua esposa e trazê-la de volta para casa, custe o que custar.
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