Shimura Ken, o lendário e atemporal comediante do Japão
No dia 29 de março o Japão ficou mais triste. O lendário comediante Shimura Ken, foi hospitalizado no dia 20 de março, três dias antes do seu exame testar positivo para o vírus. O comediante foi a primeira celebridade japonesa a falecer por causa da Covid-19.
Shimura Ken havia completado 70 anos de idade em 20 de fevereiro. Nascido em Higashimurayama, Tóquio, o artista tornou-se conhecido em 1974, ao substituir Chū Arai no famoso grupo The Drifters. Com auxílio dos demais membros do grupo, aprendeu a atuar e fazer o público rir. Com o tempo, mostrou que tinha um talento especial para a comédia.
Apesar de uma carreira de mais de 40 anos, Shimura Ken não pertencia a nenhuma geração, ou talvez pertencesse a todas. As notícias sobre a sua morte causaram um grande abalo nos seus fãs que incluem todas as faixas etárias, não só no Japão e no exterior também.
Ken Shimura estava entre os comediantes mais renomados da história moderna do Japão. Desde a década de 1970, o artista marcava presença constante na TV graças às suas famosas esquetes de comédia e personagens marcantes, como Baka Tonosama e Henna Ojisan.
Muitas de suas performances nas duas primeiras décadas de sua carreira profissional capturam o entretenimento da Era Showa (1926-89) em todo o seu humor caricato.
O grupo The Drifters esteve no ar de 1969 a 1985 no programa de TV “Hachijidayo Zeninshugo!” na TBS e foi um sucesso. Ele apareceria em muitos outros shows na década seguinte, mas seu apelo permaneceu o mesmo o tempo todo – Com seu estilo de humor pastelão, é possível se divertir com a sua atuação mesmo sem entender nada do idioma japonês.
Ao longo de quatro décadas de carreira, Shimura-san foi ganhando popularidade por suas brincadeiras e paródias fáceis de entender, incluindo a “dança do bigode” e a música “Higashimurayama Ondo”, uma referência à sua cidade natal no oeste de Tóquio.
Mesmo após o país entrar na Era Heisei (1989-2019), Shimura Ken permaneceu presente na TV japonesa. Em meados dos anos 2000, uma nova geração de espectadores o conheceu como apresentador de um programa semanal de animais no horário nobre, “Tensai! Shimura Dobutsuen”, onde o artista interagia com cães, chimpanzés e outros animais.
Desde 2006, ele também liderava uma trupe para seu show de teatro “Shimurakon” (espírito Shimura). O comediante estava programando para fazer um filme em abril baseado no livro ” O nome acima do título”. Shimura Ken, cujo nome real era Yasunori Shimura, disse em um livro de memórias que ele se inspirava no comediante americano Jerry Lewis.
Ele manteve presença na tv até o início de 2020 com uma mistura de aparições em programas de variedades e esquetes, oferecendo uma ponte que ligava os anos Showa à Era Reiwa (2019 até os dias atuais), provando que sua maior habilidade era criar comédia atemporal.
Ao explorar suas raízes na Era Showa no programa “Shimura de Naito” (“Noite de Shimura”) da Fuji TV no ano de 2018, o comediante teve a oportunidade de apresentar uma nova e diferente versão de si mesmo como artista para as novas gerações de espectadores.
Algumas das performances mais conhecidas de Shimura Ken criadas no período da bolha econômica podem ser estressantes de assistir hoje, em particular a rotina do Henna Ojisan que levou a sexualização de mulheres a um grau extremo, mas que era comum neste período.
Shimura capturou atitudes sociais dominantes durante a Era Showa, mas também passou esse tempo zombando da sociedade japonesa moderna de uma maneira que muitos não conseguiam. Ele fazia críticas ao país por meio de seu personagem Baka Tonosama (usando um cenário histórico do Japão antigo para mascarar a contemporaneidade).
Outro esquete popular tem Shimura desempenhando o papel de professor de inglês, instruindo uma classe de falantes nativos sobre como pronunciar o inglês no Japão. Apesar de engraçado, reflete o desafio daqueles que trabalham no setor de ensino de inglês do Japão.
Esquetes como essa provaram ser um sucesso em sites como o Facebook e YouTube, acumulando muitas visualizações. No entanto, o comediante também se tornou um avatar digital para muitos fora do país, resumindo o que era o humor e a comédia japonesa.
A busca por “Japan funny” no YouTube trará várias atuações de Shimura, incluindo muitas delas legendadas em inglês, vietnamita e outras línguas. É uma prova de que seu talento para piadas realmente são universais. De fato, um dos segmentos recorrentes em “Kato Chan Ken Chan Gogiken Terebi” (“TV divertida com Kato e Ken”) encontrou Shimura e o co-apresentador Cha Kato assistindo vídeos engraçados enviados pelos espectadores – um formato que inspirou o Programa de TV “Os vídeos mais engraçados da América”, que foi sucesso nos EUA.
A morte de Shimura se mostrou especialmente difícil para muitos no Japão, porque ele sempre esteve presente na vida das pessoas e criou alguns dos momentos mais memoráveis e inspiradores da cultura pop. Seja pelos 40 anos de carreira como um todo ou apenas por uma década, de certa maneira todos tiveram uma maneira única de se conectar com ele.
Para se ter uma ideia de como o comediante era amado pelo povo nipônico, o programa realizado em sua homenagem logo após sua morte, foi assistido por mais de 40 milhões de pessoas em todo o Japão, segundo a empresa de pesquisa e marketing Video Research Ltd.
O programa, que foi ao ar na Fuji TV a partir das 19h de 1º de abril de 2020, ganhou uma participação média de 21,9% nas famílias da região de Kanto, no leste do Japão, e foi assistido por cerca de 40,726 milhões de pessoas em todo o país, informou a empresa.
O programa incluiu esquetes de comédia famosos dos programas de TV Fuji ao longo dos anos, incluindo “Dorifu Daibakusho”, “Shimura Ken no Baka Tonosama” e “Shimura Ken no Daijobuda”. A TV Japonesa com certeza sentirá falta da sua presença física, mas suas memórias estarão para sempre no coração dos fãs. Descanse em paz Shimura-san!
