Akie Abe: Curiosidades sobre a ex-primeira dama do Japão
Ao contrário de suas antecessoras, ela se recusou a ficar na sombra de seu marido. Na mídia, ficou conhecida como “partido de oposição doméstica” de Shinzo Abe.
Com o assassinato de Shinzo Abe, os olhos da mídia se voltaram para a ex-primeira-dama, Akie Abe. Aos 60 anos, a viúva fez uma longa viagem de trem dia 8 de julho para ver seu marido no hospital em Nara. No dia seguinte, trouxe seu corpo de volta para casa em Tóquio de carro.
Na segunda-feira (11), ela o velou ao lado de convidados e da família em uma cerimônia privada no tempo Zojo-ji. Akie Abe, 60, foi fotografada com o que pareciam ser lágrimas nos olhos enquanto se sentava no banco da frente do carro funerário carregando o corpo do marido.
Imagens: Reuters
Akie, que foi casada com Abe por 35 anos, acompanhou o caixão ao templo Zojoji, em Tóquio, onde foi realizada uma cerimônia somente com a presença de amigos e familiares próximos, chamada ‘tsuya’ (通夜) ou ‘O-tsuya’, que significa literalmente ‘Passar a noite’, semelhante a um velório na cultura ocidental – que normalmente ocorre um dia antes de um funeral.
Do lado de fora do templo foi criado um muro de memória para Shinzo Abe, onde cidadãos comuns puderam prestar suas condolências, escrever orações e deixar flores.
Imagens: Reuters
Abe, que era considerado a figura política mais importante do país no pós-guerra, estava fazendo um discurso de campanha quando foi morto a tiros na sexta-feira do dia 8 de julho.
Akie nasceu em 10 de junho de 1962 e é filha de Akio e Emiko Matsuzaki, um rico empresário que atuou como ex-presidente da Morinaga, uma das maiores empresas de confeitaria do Japão.
Foi educada na Sacred Heart School, e em seguida, formou-se no Sacred Heart Professional Training College. Akie trabalhava na Dentsu Inc., considerada a maior agência de publicidade do mundo, quando seu chefe a apresentou a Shinzo Abe, que era um político em ascensão.
Shinzo e Akie se casaram em 1987, quando ela tinha 25 anos e ele 32. No final de 1990, Akie trabalhou como DJ em uma rádio da cidade natal do seu marido, Shimonoseki. Tornou-se popular na área de broadcasting e ficou conhecida pelo apelido de “Akky” durante sua carreira.
Na foto, o casal no dia do casamento em junho de 1987 (Instagram: @AkieAbe)
Embora Shinzo Abe tinha como meta de governo, encorajar os japoneses a terem mais filhos com o intuito de impulsionar a economia japonesa, ele e sua esposa Akie não tiveram filhos.
Após Shinzo Abe ser eleito primeiro-ministro em 2006, Akie Abe revelou em uma entrevista do por que o casal não ter tido filhos. Ela revelou então sobre os problemas de infertilidade e que o casal havia procurado tratamento nos primeiros anos do casamento, mas sem obter sucesso.
“Agora que se tornou difícil por causa da minha idade, as pessoas pararam de me dizer para continuar tentando. Mas nos estágios iniciais, eu fiz tratamento de fertilidade.”, disse ela.
Apesar de seu marido ter sugerido a adoção, Akie disse que “não se sentia confiante em criar um filho adotivo adequadamente”, e assim o casal acabou optando por não adotar.
Era considerada ‘O partido de oposição doméstica’
Akie compartilhava regularmente no Facebook atualizações sobre compromissos públicos e vida privada do casal. Crédito: @AkieAbe (Instagram)
Akie Abe era uma personalidade política franca, mesmo como esposa do ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe. Durante o mandato de seu falecido marido como primeiro-ministro japonês de 2006 a 2007 e de 2012 a 2020, Akie Abe criticou algumas das políticas de Shinzo Abe.
Nos anos antes de ela voltar ao cargo de primeira-dama, Akie Abe voltou para a faculdade e obteve um mestrado em estudos sociais da Universidade de Rikkyo, em 2011.
“Esse foi um período de dificuldades e frustrações para nós como casal”, ela disse ao Wall Street Journal em 2013. “Depois de algum tempo, ele decidiu focar em sua carreira política, e eu senti a necessidade de ter minha própria vida”, disse ela ao jornal.
Akie quebrou o estereótipo de esposa de primeiro-ministro silenciosa e solidária e adotou uma abordagem americana ao papel de ‘primeira-dama’ e tentou – ao longo da carreira política do marido – ser si mesma, e não o que seria esperado de esposas de políticos do Japão”.
Na foto, comemorando seu 32º aniversário de casamento. Crédito: @AkieAbe (Instagram)
Após seu marido renunciar de seu posto como primeiro-ministro em 2007, ela planejou abrir um pub izakaya – um tipo de bar japonês informal que serve bebidas alcoólicas e lanches.
A medida foi veementemente contestada por sua sogra, Yoko Abe, que se opôs ao perfil público de Akie. Diz-se que ela insistiu que Akie não se envolvesse ativamente no negócio. A nora concordou, embora ela continuasse a jantar no restaurante com os amigos.
O izakaya, chamado “UZU” – que significa “hidromassagem” em português, foi aberto em 2012 no distrito de Kanda, em Tóquio, meses antes de Shinzo Abe começar seu segundo mandato como primeiro-ministro. Um dos diferenciais do restaurante é servir apenas comida orgânica.
A própria Akie plantava seu próprio arroz orgânico, em um arrozal localizado perto da cidade natal de seu marido, em Shimonoseki, província de Yamaguchi, o qual era servido em seu restaurante. Em 2015, ela foi fotografada plantando arroz com a então embaixadora dos EUA no Japão, Caroline Kennedy, vestindo calças de trabalho femininas tradicionais, descalça na água turva.
Imagem: uzu-tokyo.com
“As ideias dela e as de outras esposas de primeiros-ministros são diferentes”, observou certa vez um ex-associado. ‘Ao invés de ser uma mulher que é ‘útil’ dentro de uma sociedade dominada por homens, ela quer interagir… como uma pessoa autônoma.’
Isso ajudou a ex DJ de rádio a ganhar muita popularidade como uma das personalidades políticas mais sinceras do mundo. Em uma rara entrevista de 2016 para a Bloomberg, ela comentou sobre sua decisão de ser honesta e franca nas opiniões sobre o mandato de seu marido.
Ela disse: “Quero pegar e transmitir as opiniões que não chegam ao meu marido ou ao seu círculo. Isso é um pouco como um partido de oposição, suponho.”
Ela também falou sobre seu apoio à legalização da maconha medicinal no Japão. Além disso, expressou abertamente apoio aos direitos LGBTQ+ na “terra do sol nascente”. Ela costumava usar sua conta no Facebook para defender as causas acima mencionadas.
Crédito: @AkieAbe (Instagram)
Ao longo dos anos de mandato de Shinzo Abe, várias questões a colocaram em desacordo com seu marido mais conservador, como na vez que Akie expressou sua insatisfação com o acordo comercial da Parceria Transpacífico e a motivação do Japão em usar energia nuclear.
Em 2016, ela se encontrou manifestantes em Okinawa que se opunham à expansão de uma base do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, apoiada por Shinzo Abe.
O casal Abe parecia desfrutar de um casamento feliz
Na foto, o casal em visita à Bélgica em foto compartilhada na conta do Instagram de Akie. Crédito: @AkieAbe (Instagram)
Akie também falou muitas vezes sobre a importância de criar mais oportunidades para as mulheres no Japão e foi uma das principais defensoras da ‘Womenomics’ que encoraja mulheres a permanecer e crescer no mercado de trabalho, essencial para a economia do Japão.
Apesar de algumas diferenças ideológicas, o casal Abe parecia desfrutar de um casamento feliz e gratificante, com Akie frequentemente compartilhando fotos ao lado do marido em jantares românticos e em passeios em suas mídias sociais como facebook e Instagram.
O casal tinha um relacionamento amoroso – e Akie Abe não tinha vergonha de deixar o público saber. O casal muitas vezes segurou as mãos desembarcando de aviões em viagens oficiais – uma demonstração de afeto raramente vista nos círculos políticos japoneses.
Akie sempre estava presente ao lado do marido em reuniões com outros Chefes de Estado e teve uma boa relação com as esposas deles, como Michelle Obama, Cherie Blair, Brigitte Macron, Melania Trump e Jill Biden. O casal também visitou a Rainha Elisabeth em 2016.
Akie Abe com Michele Obama e Melania Trump. Crédito: @AkieAbe (Instagram)
Ela usava seu relacionamento como um exemplo de igualdade e como os homens têm um papel importante a desempenhar para fornecer às mulheres a flexibilidade de que precisam para brilhar.
Akie Abe também se envolveu em controvérsias ocasionais, incluindo um escândalo sobre um negócio obscuro de venda de terras envolvendo uma escola nacionalista com a qual ela tinha ligações e que veio à tona em 2018. O caso de corrupção diz respeito a um lote vendido em 2016, por 15% de seu valor, à rede de escolas privadas Moritomo Gakuen, em Osaka.
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