15 fatos sobre o ex-primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe


 Shinzo Abe

Shinzo Abe era uma importante figura na vida pública japonesa, provavelmente a mais conhecida do país nas últimas duas décadas. Conheça 15 fatos sobre ele.

O assassinato de Shinzo Abe, ex-primeiro ministro do Japão na sexta feira do dia 8 de julho de 2022, chocou o Japão e o mundo, ainda mais pelas circunstâncias que esse fato ocorreu. Shinzo Abe foi alvo de tiros durante um comício eleitoral e morreu no hospital horas depois.

Abe estava acompanhado por uma equipe de segurança, mas parece que o atirador conseguiu chegar a poucos metros do político sem nenhum tipo de impedimento. Abe foi atingido por duas balas, no peito e no pescoço, por uma espingarda de cano duplo improvisada ou caseira.

O autor do crime, Tetsuya Yamagami, de 41 anos é um ex-membro da marinha japonesa, atualmente desempregado. Segundo as autoridades, ele admitiu ter matado Abe por acreditar que ele fazia parte de uma organização religiosa da qual o assassino queria se vingar.

Os médicos afirmaram que Abe morreu depois de perder muito sangue (mesmo tendo recebido transfusão durante quatro horas). O ataque a tiros contra uma figura tão proeminente é chocante em um país que possui leis de controle de armas de fogo mais rígidas do mundo.

A identidade da vítima só torna a notícia mais chocante. Após sua renúncia em 2021, Shinzo Abe não era mais o primeiro-ministro do Japão, mas ainda era uma importante figura na vida pública japonesa e provavelmente o político mais conhecido do país nas últimas três décadas.

Conheça alguns fatos sobre Shinzo Abe

1. Primeiro-ministro mais longevo do Japão

fatos sobre Shinzo AbeImagem: Depositphotos

Shinzo Abe tornou-se primeiro-ministro do Japão em 2006, mas teve que renunciar após um ano alegando motivos de saúde. Em 2012, ele novamente se tornou o primeiro-ministro e serviu por 8 anos, tornando-se em 2019, o primeiro-ministro mais longevo do Japão.

Em agosto de 2020, Abe anunciou que renunciaria ao cargo devido à recorrência de colite ulcerativa. Em 16 de setembro de 2020, Suga Yoshihide, secretário-chefe do gabinete de Abe, foi escolhido como o novo líder do Partido Liberal Democrático e se tornou primeiro-ministro.

Seu sucessor atualmente – o 100º primeiro-ministro do país – é Fumio Kishida, ex-ministro das Relações Exteriores, eleito em outubro de 2021. Antes dele, quem tinha esse título era Kōshaku Katsura Tarō, que cumpriu três mandatos não consecutivos no início do século 20.

2. Foi o primeiro ministro mais jovem a assumir o cargo

Shinzo Abe tornou-se o primeiro-ministro mais jovem do Japão aos 52 anos em 2006. Crédito: AP

Abe nasceu em 21 de setembro de 1954, em Tóquio. Isso faz dele o primeiro primeiro-ministro japonês a nascer após o fim da guerra. Ele tinha 52 anos quando se tornou chefe de Governo pela primeira vez em 2006, o mais jovem da história do seu país no pós-guerra.

3. Graduação e Licenciatura em Ciências Políticas

Shinzo Abe graduou-se na Universidade Seikei em Tóquio, com licenciatura em ciências políticas. Após a lincenciatura, Shinzo Abe se muda para os Estados Unidos para estudar políticas públicas na Universidade do Sul da Califórnia por três semestres.

4. Família com antecedentes políticos

Shinzo Abe com dois anos, no colo de sua mãe, Yoko, e seu irmão mais velho Hironobu, de 4 anos, no colo de seu pai, Shintaro. (Foto: Álbum de Família./EFE)

Shinzo Abe vem de uma família política proeminente. Seu avô materno, Nobusuke Kishi, serviu como primeiro-ministro do Japão de 1957 a 1960. Enquanto seu avô paterno, Kan Abe, serviu na Câmara dos Deputados de 1937 a 1946. O pai de Shinzo Abe, Shintaro Abe foi ministro das Relações Exteriores de 1982 a 1986 e seu irmão, Nobuo Kishi é o atual ministro da Defesa.

O irmão mais velho, Hironobu Abe, embora não tenha optado pela carreira política, também é uma figura influente na área empresarial: foi diretor executivo e presidente Mitsubishi Shoji Packaging — que produz embalagens e recipientes de papel — até março deste ano.

Curiosamente, o terceiro primeiro-ministro mais longevo e que ocupa o segundo lugar pelo tempo ininterrupto no cargo foi seu tio-avô, Eisaku Sato – entre 1964 a 1972. Como primeiro-ministro, Eisaku Satō presidiu um período de rápido crescimento econômico no país.

Ele providenciou o retorno formal de Okinawa (ocupada pelos Estados Unidos desde o fim da Segunda Guerra Mundial) ao controle japonês. Eisaku Satō também trouxe o Japão para o ‘Tratado de Não Proliferação Nuclear’, pelo qual recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1974.

5. Trabalhou na Kobe Steel, de 1979 a 1982

Área Industrial da Kobe Steel em Kobe Área Industrial da Kobe Steel em Kobe. Imagem: Depositphotos

Em 1979, Abe começa a trabalhar na Kobe Steel, uma empresa fundada em 1905 que atua no ramo do aço, sediada em Kobe. Em 1982, Abe decide deixar a empresa para buscar novos cargos no Ministério das Relações Exteriores e no Partido Liberal Democrata.

6. Iniciou a carreira política como assessor do pai

Encontro de Shintaro Abe com Ronald Reagan em 1987 (Wikimedia Commons)Encontro de Shintaro Abe com Ronald Reagan em 1987 (Wikimedia Commons)

Iniciou-se na vida política em 1982, como assessor do pai, que era então ministro dos Negócios Estrangeiros. Depois de o pai morrer, em 1991, foi eleito pela primeira vez como legislador do Partido Liberal Democrata, representando a província de Yamaguchi, em 1993. Curiosidade: Assim como Shinzo, seu pai também faleceu aos 67 anos, mas de insuficiência cardíaca.

No ano 2000, foi nomeado vice-secretário-geral do Partido Liberal Democrático. Foi nessa posição que acompanhou o primeiro-ministro Junichiro Koizumi a Pyongyang, em 2002, para se encontrar com o então líder norte-coreano, Kim Jong-il, pai do atual líder ‎Kim Jong-un.

A ideia era negociar a libertação de cidadãos japoneses que teriam sido raptados por agentes norte-coreanos e conseguiram. Apesar do impacto positivo que este momento teve na sua carreira, marcou também o início das relações hostis com a Coreia do Norte.

7. Revisão do Artigo 9

Força de Autodefesa do Japão Embora proibido de ter uma Força Armada, o Japão possui uma Força de Autodefesa.
Imagem: Depositphotos

O Artigo 9 da Constituição Japonesa diz: ‘O povo japonês renuncia para sempre à guerra como um direito soberano da nação.’ Esta cláusula foi acrescentada após a rendição do país no final da Segunda Guerra Mundial e impede que o Japão tenha seu próprio exército militar.

O governo Abe buscou ativamente a revisão da constituição japonesa. Em 2014, o gabinete havia aprovado uma reinterpretação da chamada cláusula de paz da constituição, que abriu caminho para aprovar projetos de lei em maio de 2015 que tornariam mais fácil para o Japão usar a força militar caso o país fosse atacado ou ameaçado por outros países.

Essas medidas fomentaram debates e discussões já que o pacifismo é bastante popular no país, estimando-se que mais da metade da população concorda com a proibição de ter um Exército.

8. Plano de governo “Abenomics”

Fatos sobre Shinzo Abe Imagem: Depositphotos

Após ser eleito em 2012, Shinzo Abe rapidamente lançou um ambicioso programa econômico destinado a estimular a economia japonesa, há muito tempo estagnada, e ajudar a acelerar a recuperação da região nordeste do país, devastada pelo terremoto e tsunami de 2011.

A cartilha apelidada de “Abenomics”, que mirava combater a deflação que freava a economia japonesa havia décadas, com um mix de políticas monetárias expansionistas, estímulos fiscais maciços e reformas estruturais para reverter o rápido envelhecimento da população.

O programa econômico de Abe parecia estar funcionando inicialmente, com forte crescimento em 2013 e no primeiro semestre de 2014 e queda na taxa de desemprego. Em abril de 2014, Abe promoveu o aumento do imposto sobre o consumo nacional, o primeiro em 17 anos, o que contribuiu para uma queda dramática na economia do Japão durante o resto do ano.

No entanto, sem reformas estruturais suficientes, a `Abenomics` produziu êxitos parciais como um aumento significativo da taxa de participação das mulheres e dos cidadãos idosos na força de trabalho, bem como um maior recurso à imigração face à escassez de mão-de-obra.

9. A polêmica visita ao Santuário Yasukuni em Tóquio

Santuário de Yasukuni em Tóquio, Japão Santuário de Yasukuni em Tóquio, Japão. Imagem: Depositphotos

Após Shinzo Abe ser eleito novamente como primeiro-ministro em 2012, um de seus primeiros atos foi visitar o Santuário Yasukuni em Tóquio, um memorial aos mortos militares do Japão que inclui indivíduos condenados por crimes de guerra durante a Segunda Guerra Mundial.

Essa ação provocou fortes protestos por parte de outros países da região Ásia-Pacífico, e inflamou ainda mais a polêmica sobre suas opiniões sobre a soberania das ilhas no Pacífico que eram disputadas entre China e Japão, bem como por sua posição favorável à revisão da cláusula pacifista prevista no artigo 9 da constituição japonesa.

Isso fez com que as relações entre Tóquio e Seul deteriorassem-se no contexto das suas disputas históricas, enquanto que as relações com Pequim, que pioraram, continuaram tensas.

10. Shinzo Abe priorizou as relações diplomáticas

Japão e UE assinam pacto de livre comércio em meio a guerra comercial em 2018. Imagem Depositphotos

Deixou a sua marca durante o segundo mandato (2012-2020) com uma política ousada de recuperação económica e uma intensa atividade diplomática. O ex-governante também tentou reforçar a presença do Japão na cena internacional, por exemplo, através da mediação entre o Irã e os EUA, promovendo o multilateralismo e aumentando os acordos de comércio livre.

Com o grande aliado do Japão, os Estados Unidos, Abe sempre se adaptou e tinha conseguido estabelecer laços estreitos com os líderes norte-americanos. Pela primeira vez, um presidente americano foi convidado a visitar Hiroshima, devastada por uma bomba atômica americana.

A visita à Hiroshima ocorreu em maio de 2016, ocasião em que o ex-presidente Barack Obama defendia que o mundo trabalhasse para erradicar as bombas nucleares. Shinzo Abe também visitou a base aérea de Pearl Harbor, alvo de um ataque japonês na Segunda Guerra Mundial.

Também tinha uma boa relação com o ex-Presidente norte-americano Donald Trump, com quem partilhava uma paixão pelo golfe. Segundo Trump “Ele era um unificador como nenhum outro, mas acima de tudo, era um homem que amava e valorizava seu magnífico país, o Japão”.

Shinzo Abe também tentou não hostilizar o Presidente russo, Vladimir Putin. A esperança de resolver a disputa sobre as Ilhas Kuril do Sul, anexadas pela União Soviética no final da Segunda Guerra Mundial e que não mais regressaram à soberania do Japão, fracassaram.

11. Polêmicas envolvendo Shinzo Abe

Pessoas caminham por uma rua de Kabukicho, o maior distrito de entretenimento noturno do Japão em Shinjuku em Tóquio. Foto: Kimimasa Mayana/EPA/EFE

Para permanecer no poder, Abe se beneficiou largamente da ausência de um sério rival dentro do seu partido político, o Partido Liberal Democrático (LDP), e da fraqueza da oposição, que ainda não havia se recuperado da desastrosa passagem no poder entre 2009 e 2012.

O ex-primeiro-ministro japonês chegou a pedir desculpas em 2020 no Parlamento por um escândalo relacionado ao financiamento de recepções organizadas para os seus partidários, apesar da Justiça ter decidido não apresentar acusações contra Abe.

Antes, a reputação de Shinzo Abe e da mulher, Akie, assim como a do então ministro das Finanças, ficaram manchados depois de os seus nomes terem sido removidos de documentos relacionados com a venda de um terreno do Estado, a um preço quase dez vezes inferior ao do mercado, a favor de uma instituição educativa privada com ligações a Abe e à mulher.

O governo de Abe também enfrentou oposição ao novo estádio em Tóquio para os Jogos Olímpicos de 2020. O projeto do arquiteto Dame Zaha Hadid, inicialmente havia sido aceito, mas em 2015 foi rejeitado em meio a preocupações com os custos crescentes de construção.

12. Shinzo Abe visitou o Brasil duas vezes

Ex-premiê Shinzo Abe durante visita ao bairro da Liberdade, em SP — Foto: Bruno Fernandes/Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e Assistência Social (bunkyo)

Abe visitou o Brasil em duas ocasiões. A primeira, em 2014, quando se encontrou com a então presidente Dilma Rousseff (PT) para assinar acordos de cooperação mútua entre os países na área industrial e econômica, e em 2016, durante os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.

Na primeira visita, além das autoridades do país, Abe esteve com empresários brasileiros. Em São Paulo, visitou a Liberdade, bairro que concentra a tradição oriental e foi homenageado na Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (Bunkyo).

Depois, em 2016, veio ao Brasil por ocasião dos Jogos Olímpicos do Rio, como parte da organização da Olimpíadas de Tóquio que aconteceria em 2020.

13. Uma aparição bem humorada no encerramento Rio 2016

Shinzo Abe vestido de Mario no Rio 2016Shinzo Abe aparece vestido de Mario na cerimônia de encerramento das Olímpiadas Rio 2016. Foto: G1

Abe manteve-se durante muito tempo focado na esperança de organizar os Jogos Olímpicos de Tóquio no Verão de 2020, que seria o ponto alto do seu último mandato, contrariando a maioria da opinião pública, que por causa da pandemia, desejava que os Jogos Olímpicos de Tóquio fossem cancelados. No entanto, o evento acabou ocorrendo um ano depois, em 2021.

Na cerimônia de encerramento da Olimpíada no Rio, em 2016, Shinzo Abe surpreendeu surgindo de dentro de um cano verde vestido como o personagem Mario Bros no meio do Maracanã. O episódio foi o início da apresentação da Olimpíada que aconteceria em Tóquio em 2020.

Na cena bem humorada em que participou, Abe estava atrasado e achava que não conseguiria atravessar o mundo a tempo de participar da cerimônia na cidade brasileira. Então, ele se transformava no personagem, fazendo uma alusão a indústria de games do Japão.

No meio da chuva que caía sobre o Rio no dia, o ex-premiê acenou para as arquibancadas segurando uma esfera vermelha e o chapéu do personagem. Com certeza esta é uma lembrança feliz que os brasileiros guardam desta grande e carismática figura política japonesa.

14. A segunda renúncia de Abe

No verão de 2020, quando se tornara impopular devido à gestão da pandemia de covid-19, considerada desastrosa pela opinião pública, admitiu que sofria de uma doença inflamatória intestinal crónica, colite ulcerosa, e demitiu-se pouco tempo depois. Esta doença tinha já sido uma das razões para o fim abrupto do primeiro mandato em 2007.

Yoshihide Suga, secretário-chefe do gabinete de Abe assumiu o cargo até as eleições gerais de outubro de 2021, quando Fumio Kishida se tornou primeiro-ministro.

15. Último discurso em vida

O último discurso de Shinzo AbeO último discurso de Shinzo Abe, em Nara. Imagem: DW

Shinzo Abe foi brutalmente assassinado no dia 8 de julho de 2022, aos 67 anos de idade. Ele participava de uma campanha política na cidade de Nara, em apoio a Kei Sato, um político que tentava se reeleger para o Senado na votação que ocorreria no dia 10 de julho.

Em seu último discurso, Abe pedia votos para Kei Sato e elogiava o desempenho de Sato durante a pandemia. Segundo o ex-primeiro-ministro, Sato se mostrou solícito durante os piores momentos da onda de Covid-19 no Japão. Esse foi o último assunto da vida de Abe.

A morte de Shinzo Abe causou comoção no Japão e no mundo inteiro. Os cidadãos japoneses expressaram sua incredulidade e tristeza com o assassinato do ex-premiê, que governou o país durante oito anos. É um soco na democracia”, disse uma moradora de Tóquio à RFI.

Vale lembrar que o Japão tem regulamentações excepcionalmente rígidas que proíbem cidadãos comuns de adquirirem armas de fogo de fabricação industrial. Em 2021 foi registrado apenas uma morte por arma de fogo, o que tornou a notícia de sua morte ainda mais chocante.

Fontes: britannica.com, indiatimes.com, 24.sapo.pt, G1
Imagens do topo: Depositphotos

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