Zōjōji: O templo budista do clã Tokugawa


Templo Zozoji, em Tóquio

Fundado em 1393, o icônico templo budista Zōjōji situado no coração de Tóquio, foi o templo da família do clã Tokugawa no Período Edo e guarda muita história.

San’en-zan Zōjō-ji (三縁山増上寺) é um antigo templo budista no coração de Tóquio. Durante o período Edo, serviu aos xoguns Tokugawa, e muitos dos edifícios e monumentos no terreno fazem parte deste rico legado histórico. Hoje, porém, está intimamente associado ao seu vizinho Tokyo Tower, os dois colaborando para criar um dos locais mais icônicos da capital.

Fundado em 1393 pelo sacerdote Shōsō como um centro do budismo Jōdo, o icônico templo budista Zōjōji é um tesouro de história situado no coração de Tóquio e durante o período Edo (1603-1868), este foi o templo da família governante que pertencia ao clã Tokugawa.

Hoje, os visitantes podem visitar o local de descanso final de vários xoguns junto com a impressionante coleção de artefatos históricos do templo. Zōjōji mantém sua importância para os seguidores da seita Terra Pura, mas também atrai turistas e fotógrafos que vêm admirar a cena contrastante de edifícios de templos e a Torre de Tóquio, que se eleva nas proximidades.

Imagem: photo-ac.com

O Templo Zōjōji prosperou sob o domínio de Tokugawa, começando com o fundador do xogunato Tokugawa Ieyasu (1543-1616), e cresceu para se tornar uma instituição budista na capital feudal de Edo (atual Tóquio). O templo diminuiu de importância após a Restauração Meiji de 1868, mas permaneceu como um exemplo da arquitetura do período Edo.

No entanto, a maioria dos edifícios ornamentados que ficavam no terreno foram destruídos no bombardeio dos aliados da capital durante a Segunda Guerra Mundial.

Imagem: photo-ac.com

Uma das poucas estruturas que sobreviveram à conflagração é o portão principal, o Sangedatsumon. Com uma impressionante altura de 21 metros e 19 metros de largura, a elegante entrada vermelha tem vista para a movimentada rua de Hibiya-dōri.

Construído no auge do Período Edo, em 1622, este é considerado o edifício de madeira mais antigo de Tóquio e registrado como uma importante propriedade cultural nacional.

Um pinheiro plantado pelo presidente dos Estados Unidos Ulysses S. Grant, que visitou o Japão com sua esposa em 1879 após deixar o cargo, fica logo depois do portão. Imagem: photo-ac.com

Os turistas que passarem pelo portão principal encontrarão um cenário com árvores, estátuas de pedra e espaços abertos. Matsunaga Hakuchō, que chefia o escritório de visitantes do templo, diz que um local de tal importância histórica como Zōjōji atrai poucos turistas.

Ele atribui esta situação lamentável à perda de tantas estruturas tradicionais nos ataques aéreos nos tempos de guerra. Embora diminuído em grandeza, o recinto ainda ostenta ampla evidência do passado ilustre do templo, incluindo os túmulos de seis xoguns Tokugawa e outras figuras notáveis tais ​​como a princesa Kazunomiya, esposa de Tokugawa Iemochi.

Os túmulos dos seis shōguns Tokugawa são unidos pelos das esposas e outros membros da família. Imagem: Wikimedia Commons

Matsunaga observa que o crescimento da mídias sociais trouxe um aumento no número de turistas que visitam os jardins do templo ou que vem para fotografar o Sangedatsumon e outros edifícios ao lado do emblemático Tokyo Tower. Ele recomenda que, além de tirar fotos, os turistas também prestem suas homenagens no Daiden, o salão principal do templo.

Minha esperança é que os visitantes venham primeiro ao salão reverenciar o Namu Amida Butsu – antes de explorar o recinto”, comenta. “Depois, podem tirar fotos o quanto quiserem.”

Templo para Xoguns

O budismo Jōdo foi fundado no Japão em 1175 pelo lendário sacerdote Hōnen, que pregava que os indivíduos podiam alcançar a salvação e renascer no Gokuraku-jōdo, a terra budista de pura felicidade, por meio da recitação obstinada do nenbutsu (se refere à recitação do budismo ao Namu Amida Butsu que diz “Confio no Buda Amida” ou “Glória ao Buda Amida”).

O Daiden abriga uma grande imagem de madeira de Amida Nyorai, o Buda da Luz Infinita e principal divindade da seita Terra Pura, que data do período Muromachi (1333-1568). A escultura é flanqueada por estátuas de Hōnen e Shandao, um sacerdote chinês do século 7 cujos escritos influenciaram o desenvolvimento das escolas Jōdo no Japão.

A imagem de Amida Nyorai, ladeada por imagens dos sacerdotes Hōnen, e Shandao. Imagem: photo-ac.com

Zōjōji se tornou o templo da família do clã Tokugawa por meio de uma conexão tortuosa com a província de Mikawa (atual província de Aichi). Ieyasu cresceu no poderoso clã Matsudaira e visitava o templo da família Daijuji, que hoje fica na cidade de Okazaki, em Aichi.

Daijuji foi fundado pelo sacerdote Gutei, um discípulo do fundador de Zōjōji, Shōsō. Antes de fazer de Edo sua base provincial em 1590, Ieyasu consultou o abade de Daijuji sobre a seleção de um templo familiar para o recém-formado clã Tokugawa. O abade recomendou Zōjōji, cujo principal sacerdote Zonnō impressionou profundamente o senhor da guerra.

A figura sentada de Amida Nyorai no centro está registrada como uma Propriedade Cultural de Tóquio. Imagem: Wikimedia Commons

Zōjōji ficava originalmente em Kaizuka, a oeste do Castelo de Edo (hoje bairro de Kioichō em Chiyoda). Ieyasu mudou o templo para sua localização atual a sudoeste do castelo em 1598 para proteger a fortaleza do infortúnio que emanava daquela direção desfavorável. (Em 1625, o templo Kan’eiji foi estabelecido em Ueno com o mesmo propósito, de proteger o castelo).

O primeiro governante Tokugawa a ser enterrado em Zōjōji foi o segundo Xogun Hidetada. Ao longo dos séculos de governo Tokugawa, ele recebeu a companhia dos xoguns Ienobu (sexto), Ietsugu (sétimo), Ieshige (nono), Ieyoshi (décimo segundo) e Iemochi (décimo quarto).

O fundador do xogunato, Ieyasu, foi enterrado em Nikkō Tōshōgū, em Tochigi, assim como o 3° governante, Iemitsu, enquanto outros governantes Tokugawa descansam no segundo templo da família do clã, Kan’eiji. Os mausoléus originais dos xogun em Zōjōji foram destruídos durante a guerra e os túmulos foram transferidos para novos túmulos no terreno do templo.

Um Grande Complexo de Templos

Vista aérea de Zojoji visto do obsevatório do Tokyo Tower. Imagem: photo-ac.com

Os limites atuais de Zōjōji são apenas uma fração dos quase 83 hectares que existiam no auge do templo. Os inúmeros prédios e jardins que antes ficavam no amplo recinto foram substituídos por estradas e modernas estruturas de concreto alguns séculos depois.

O Sangedetsumon na verdade não era a entrada frontal do templo e sim o portão do meio. O portão principal, Daimon, ficava a leste a uma distância de exatamente 108 ken – cerca de 200 metros – um número correspondente ao número de desejos terrestres.

Hoje, uma réplica muito reduzida marca o lugar onde ficava o grande portão, enquanto o nome Daimon continua vivo como uma estação nas linhas de metrô Asakusa e Ōedo.

O governo Meiji reduziu o tamanho de Zōjōji e doou o terreno para a recém-fundada cidade de Tóquio. Em 2016, o governo metropolitano devolveu o local do Daimon ao templo. Imagem: photo-ac.com

O limite norte do templo se estendia até o Onarimon, o portão dedicado às visitas do xogunal. Hoje, a área é marcada por uma estação homônima na Linha Mita do Metrô Toei. O Shiba Park e o hotel Prince Park Tower Tokyo ocupam o que costumava ser a parte sul de Zōjōji.

O Tokyo Tower marca a fronteira dos jardins a oeste. Havia 48 sub-templos no vasto recinto, bem como mais de 100 estruturas para abrigar o imenso número de monges, mais de 3.000 segundo alguns relatos, que estudavam no templo. Zōjōji também controlava propriedades nas áreas circunvizinhas e mais distantes, o que lhe garantia uma renda substancial.

Imagem: photo-ac.com

O Legado Tokugawa

Relíquias da profunda conexão de Zōjōji com o governo Tokugawa estão espalhadas por todo o terreno do templo. No lado norte do templo por exemplo, está um antigo suibansha, que trata-se de uma cisterna coberta onde os adoradores se purificam antes de orar.

O recipiente de pedra era originalmente parte do Seiyō-in, o mausoléu do filho do xogun Iemitsu, Tokugawa Tsunashige, senhor do Domínio de Kōfu, mas posteriormente foi transferido para seu local atual depois que a tumba foi destruída por um incêndio.

A cisterna do mausoléu de Tokugawa Tsunashige ainda está em uso. Imagem: photo-ac.com

Bem em frente está uma torre que abriga o Daibonshō. Na época que foi construída, em 1673, o Daibonshō era um dos maiores sinos de templo em Edo e na região circundante.

O Daibonshō era considerado um dos três grandes sinos do templo de Edo. Imagem: photo-ac.com

Outros artefatos relacionados ao clã Tokugawa que sobreviveram à destruição durante a guerra são o Kuromon, um portão construído em meados do século XVII, e um kyōzō (uma estrutura budista que servia como repositório de sutra e crônicas da história do templo) de 200 anos.

O Kuromon ao sul do Sangedatsumon foi encomendado pelo terceiro shōgun Iemitsu. Imagem: photo-ac.com

Adjacente ao Daiden está outro salão proeminente de Zōjōji, o Ankokuden. O prédio abriga uma imagem do Buda Amida, que dizem ter sido esculpida pelo sacerdote Genshin (942–1017), cujos escritos tiveram influência na difusão do Budismo Terra Pura. Há suposições que Tokugawa Ieyasu venerava esta escultura e orava com frequência diante dela.

Mitsuba Aoi era o brasão do clã Tokugawa. Imagem: photo-ac.com

O símbolo mais proeminente da conexão de Zōjōji com o clã Tokugawa é o mitsuba aoi, que se refere ao brasão da família Tokugawa com três folhas de malva-rosa que adornam itens como telhas, portões e esculturas de pedra em todo o terreno do templo.

Um Repositório da História de Edo

Zōjōji também abriga muitos lembretes históricos da importância religiosa e cultural do templo. No lado nordeste está o Santuário Yuya, estabelecido em 1624, e no lado oeste há uma casa de chá associada à Princesa Kazunomiya, esposa do 14° governane Tokugawa Iemochi.

Existem também inúmeras lanternas e monumentos de pedra, incluindo um dedicado aos membros da lendária brigada megumi de incêndio de Edo. As fileiras de estátua Jizō, vestindo bonés e babadores vermelhos são especialmente populares entre os visitantes do exterior.

Cata-ventos e oferendas de flores e brinquedos decoram as fileiras de estátuas Jizō. Imagem: photo-ac.com

As cerca de 1.300 pequenas estátuas de pedra foram oferecidas como orações pela saúde de uma criança e também como homenagem às almas daqueles que não chegaram a nascer.

Matsunaga recomenda que depois de explorar os jardins do templo, os visitantes visitem a Galeria do Tesouro de Zōjōji, no andar térreo do Daiden. O museu abriga uma série de obras de arte e relíquias pertencentes à história do templo. A peça central é uma réplica em miniatura do mausoléu de Hidetada, o Taitoku-in, que dizem ter sido o modelo para Nikkō Tōshōgū.

Seis shōguns Tokugawa enterrados no Mausoléu Taitoku-in. Imagem: Wikimedia Commons

Um Centro de Estudos Budistas

Matsunaga admite que Zōjōji poderia fazer mais para atrair turistas, mas ele insiste que as funções principais do templo são associados ao fato deste ser a sede do budismo Jōdo na área de Kantō. Junto com o Chion-in de Kyoto, é um dos dois únicos templos onde os candidatos devem passar por três semanas finais de treinamento antes de serem ordenados sacerdotes.

A cada ano, cerca de 100 sacerdotes completam seus estudos em Zōjōji e são designados para outros templos em todo o país. 2025 marcará o 850º aniversário da fundação da seita Jōdo.

Incensário onde os fiéis acendem varetas de incenso. Imagem: photo-ac.com

Matsunaga Hakuchō diz que reformas estão em andamento para substituir as telhas do Daiden e Sangedatsumon. “Eu sinceramente espero que os turistas e os seguidores do budismo Jōdo continuem a visitar o Templo Zōjōji e o Tokyo Tower – por muitos, muitos anos mais.

O Templo Zozoji é muito popular para a prática do Hatsumode, que é a primeira visita ao templo do ano que geralmente ocorre nos 3 primeiros dias de janeiro. Trata-se de uma tradição milenar onde as pessoas costumam fazer uma oração para pedir por um ano seguro e de paz. Se você ainda não conhece esse templo histórico, essa pode ser uma excelente oportunidade.

Fonte: nippon.com
Imagem do topo: photo-ac.com

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