O preço da cobiça


O preço da cobiça

Nesta narrativa de suspense, você vai descobrir como a ação inconsequente de um adolescente acaba trazendo danos a quem ele ama.

Por Rafaela Torres & Mara Vanessa Torres

Shin Fujiwara aceitou participar de uma prova de coragem ao lado de seus amigos. Ele não pensou duas vezes quando ouviu Takuia Oho sugerir que deveriam percorrer uma floresta abandonada à noite. Assim, em uma sexta-feira de lua cheia, o grupo partiu em direção à Mori, um lugar espectral de vegetação densa e árvores altas.

Sem prestar muita atenção ao seu redor, Shin se perdeu dos amigos e terminou parando em um lugar misterioso. À primeira vista, parecia ser uma aldeia abandonada.

Ora bolas, parece que estou perdido! — lamentou.

Procurando um modo de sair daquele lugar escuro e sombrio, o adolescente esbarrou em algo: trata-se de um bonito espelho. Um objeto de tamanho médio, do tipo que as garotas guardam com zelo em suas gavetas, e indescritivelmente chamativo.

Segurando-o com firmeza, Shin notou que era um espelho vermelho, adornado com detalhes dourados. A “prenda” repousava tranquilamente ao lado do que parecia ser uma estátua.

Que desperdício deixar algo tão bonito num lugar decadente como este! — pensou consigo mesmo.

Sem qualquer minuto de reflexão, Shin decidiu levar o espelho com o intuito de presentear sua melhor amiga. A bela Kana Suzuki, de longos cabelos pretos e olhos cor de mel, era a garota por quem ele era perdidamente apaixonado.

De repente, Shin escutou ruídos que se assemelhavam a sussurros. Eles foram ficando cada vez mais altos à medida que se aproximavam. Por mais que se esforçasse e aguçasse os ouvidos, Shin não conseguiu discernir as palavras.

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Assustado, o rapaz correu o mais depressa que suas pernas conseguiram, deixando para trás o misterioso vilarejo. Subitamente — e para seu profundo alívio —, Shin viu algumas luzes e seguiu em direção a elas, encontrando seus amigos.

Com a sensação de alívio no peito, o adolescente retornou para casa. No outro dia, Shin Fujiwara perguntou a si mesmo se tudo não passara de um sonho. Bocejando, ele levou um susto quando olhou para sua mesa de estudos e viu o espelho em cima dos livros.

Afastando qualquer pensamento ruim, ele tomou banho, comeu uma tigela de arroz e foi para a escola. Logo nas escadarias, ele encontrou Kana, tão bela como a mais florida primavera. No final do horário escolar, o apaixonado Shin presenteou a garota com o espelho de mão encontrado na floresta.

Puxa, Shin! Ele é lindo! Deve ter sido caro!

Ah, não se preocupe com isso, Kana. Você merece.

Ela sorriu e acenou para o amigo, esmagando o seu coração de felicidade e o deixando sem ar.

Ao voltar para casa, Shin seguiu sua rotina de sempre. No entanto, no final da tarde, o telefone da casa tocou e o rapaz atendeu:

Moshi Moshi.

Não é seu — disse uma voz sussurrante.

Em seguida, o telefone ficou mudo. Sem entender nada, Shin colocou o aparelho de volta no lugar e ficou imaginando quem poderia ser. Talvez algum de seus amigos brincalhões… Ou qualquer desocupado passando trotes! Fazendo pouco caso, o adolescente ligou a televisão e permaneceu deitado no sofá até depois das dez da noite. No dia seguinte, o episódio tornou a se repetir. Dessa vez, Shin ouviu a pessoa do outro lado da linha dizer:

Devolva — seguido do que pareceu ser um rosnado.

No outro dia, Shin Fujiwara percebeu que Kana não havia comparecido às aulas.

Talvez ela esteja resfriada”, pensou. “Amanhã não tem aula. Vou passar na casa dela.”

Na manhã seguinte, a caminho da casa de sua amiga, Fujiwara resolveu passar em uma loja de conveniência para comprar alguns dos lanchinhos favoritos de Suzuki. Ele aproveitou a ocasião para dar uma rápida palavrinha com o dono, Isao Kato, ou Kato-ojiisan, como Shin costumava chamá-lo. Saindo de lá e andando alguns quarteirões, o rapaz chegou à casa da garota.

Ele tocou a campainha, mas não obteve resposta. Preocupado, ele bateu na porta repetidas vezes. Porém, para sua decepção, ninguém respondeu. A casa estava estranhamente silenciosa. Shin resolveu ligar para o celular da amiga, mas também não teve sucesso.

Sentindo uma estranha sensação remexer o seu interior, o rapaz virou as costas e começou a se afastar, quando resolveu dar uma última olhada. Para sua surpresa, ele percebeu que há movimento na casa. Desesperado, Shin pegou o celular e ligou novamente.

Moshi — disse a voz.

Kana? Sua voz está meio diferente. Nem parece você — Shin falou nervosamente.

Um momento de silêncio e depois a voz respondeu:

Vai pagar. E muito caro.

Em seguida, a ligação ficou muda novamente. Desligando a chamada, Fujiwara teve uma forte sensação de que estava sendo observado e olhou para a janela do andar de cima. Mesmo com a casa escurecida por dentro, ele percebeu que alguma coisa estava com o olhar fixo nele.

Sem saber o que fazer, o rapaz correu de volta para a loja de conveniência e pediu ajuda para Kato-ojiisan, que o convenceu a manter um pouco de calma e equilíbrio.

Com a tensão um pouco aliviada, Shin explicou a situação e contou sobre o vilarejo que encontrou na floresta, falando também a respeito do espelho. Ele encerrou a narrativa balbuciando sobre a misteriosa voz que ele tinha escutado pelo telefone.

Ouvindo tudo atentamente, Isao explicou que isso parecia ser um trabalho de um youkai vingativo, que estava enfurecido por ter seu pertence roubado. Eles tinham que agir rápido, por isso, o experiente senhor deixou a loja aos cuidados de sua esposa, foi até à sala dos fundos e trouxe de lá uma caixa com talismãs e outros objetos sagrados.

Juntos, eles se encaminharam para a casa de Suzuki. Assim que chegaram na porta, Isao espalhou os talismãs e entoou orações sagradas.

Alguma coisa dentro da casa rosnou com fúria, arrebentando a janela da frente quando saiu em disparada pela rua. Tudo foi tão rápido que Fujiwara só conseguiu ver o esboço de uma criatura peluda.

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Depois de um tempo, a porta se abriu e o pai de Kana apareceu. Parecia um pouco fraco, como se tivesse passado várias noites sem dormir. Após um breve momento, a sra. Suzuki também apareceu.

Estava com o mesmo aspecto abatido do marido. Enquanto Kato-ojiisan checava os pais, Shin correu para saber notícias da amiga. E lá estava ela, descendo as escadas um tanto cambaleante. Abraçando a garota firmemente, o rapaz falou com voz de culpa:

Kana! Que bom que você está bem!

Eu… Tive um sonho estranho. Eu tentava acordar e não conseguia — ela falou baixinho.

Agora vai ficar tudo bem. Kana, por favor, diga: onde está aquele espelho que eu lhe dei? Eu o peguei por engano. Ele pertence a outra pessoa e eu tenho que devolvê-lo — Shin falava calmamente enquanto ajudava a amiga a sentar no sofá.

Deixei-o em um baú perto de minha cama.

Suzuki tirou uma chave do bolso e a entregou a Fujiwara:

Vai precisar disso para abrir.

Com um sorriso reconfortante, o rapaz pegou a chave, foi em direção ao quarto, abriu o baú e, após pegar o espelho, desceu correndo.

Preciso ir, Kana. Fique bem.

Shin falou com Isao, que lhe deu um amuleto muito especial.

Isso vai protegê-lo, garoto.

Indo de encontro ao destino, Shin Fujiwara foi até à floresta onde tudo tinha começado.

Andando pelo mar de árvores enquanto procurava o vilarejo, o rapaz tropeçou e acabou caindo de um pequeno morro. Ao se levantar, ele percebeu que havia chegado justamente na entrada do vilarejo abandonado.

Reunindo sua coragem, carregando o espelho em uma mão e o amuleto na outra, Shin começou a explorar o lugar. À luz do dia, o local parecia bem mais desolado do que visto de noite, quando foi descoberto somente com o auxílio de uma lanterna.

Olhando pelos lados, Shin reconheceu a estátua daquela noite fatídica. Observando bem, era a estátua de uma raposa. Não dava para saber com certeza, pois estava faltando algumas partes da estátua. Deixando o espelho no lugar de onde ele nunca deveria ter saído, Fujiwara fez uma pequena prece e se encaminhou para a saída daquele lugar sombrio.

Quando estava quase indo embora completamente, o rapaz escutou um sussurro. Dessa vez, ele conseguiu distinguir bem as palavras:

Nunca mais volte aqui. Você não é bem-vindo.

E assim ele o fez. Quando voltou para a casa de Kana, Shin agradeceu a generosidade do gentil senhor Isao, contou toda a história para a amiga e pediu perdão por colocá-la naquela situação, agindo sem pensar nas consequências. Mesmo após vinte anos do acontecido, Shin Fujiwara ainda vacila toda vez que precisa atender ao telefone.


Rafaela Torres é escritora, psicóloga, ilustradora e gamer. Apaixonada pela cultura asiática. @rosenightshade

Mara Vanessa Torres é escritora, jornalista, revisora e crítica cultural. Tem profunda admiração e crescente interesse pelo universo artístico e cultural nipônico. @abyssal_waters

Imagem do topo: Japanese Forest de Mark Graham

4 Comentários

  1. Sandra Maria

    E por que isso seria cobiça? Ele achou um objeto abandonado. É pra dar um tom moralista? Alusivo à ética oriental? Já li outros contos aqui e estão todos eivados de conceitos típicos do Ocidente. Sobre a narrativa, os personagens e as coisas vão aparecendo de repente, e os fatos vão se desenrolando como se fossem já encaminhados pra serem resolvidos, sem uma indicação retrospectiva. Bem conveniente o Isao, do nada assim, saber o que fazer. E acho que confundiram o poder de um youkai com de um kami. Poderiam estudar mais sobre cultura japonesa, em vez de só ver animes e contos de horror de internet. Pensei que fosse algo do Japão, mas isso parece estorinha fanfic de algum mangá shoujo. Meio ruinzinha.

  2. Marie

    Maravilhoso! Super suspense!

  3. Mara Vanessa Torres

    Nossas histórias são frutos de pesquisa, leitura massiva e muita vontade de aprender, conhecer e descobrir. A ideia da cobiça vem do desejo do personagem em almejar algo que não lhe pertence.

    Poderiam ter mais sensibilidade e respeito com o trabalho do outro. Em caso de frustração, que tal pontuar de forma construtiva, ao invés de levantar hipóteses e achismos sobre o modo que o material foi produzido? Melhor ainda: que tal criar o seu próprio texto?

    Um abraço acompanhando de um minuto de sabedoria: “A reputação de mil anos pode ser determinada pelo comportamento de uma única hora.”

  4. Ian Moura

    Agora eu estou ‘cobiçando’ a resposta da Sandra Maria. Kkkkk

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