10 fatos perturbadores do período Edo


Período Edo Nakanocho in the Yoshiwara District (Yoshiwara Nakanocho) from the series Famous Views of Edo (Edo meisho), 1842

Apesar de ter sido muito importante para o desenvolvimento da cultura japonesa, o período Edo foi um período de grandes contrastes. Confira algumas curiosidades.

O período Edo (1603 – 1868) foi uma época fascinante da história japonesa que influenciou muitos hábitos que os japoneses tem hoje. Além disso é a inspiração para muitos filmes sobre samurai, honra, lindos quimonos e uma vasta gama da cultura japonesa que amamos.

Mas apesar de ser uma das épocas mais magníficas da história japonesa, como podemos imaginar nem tudo foi flores. É por isso que neste post eu convido você a conhecer 10 fatos interessantes e ao mesmo tempo perturbadores sobre a vida nesta época do Japão antigo.

1- Qualquer pessoa podia praticar medicina

Imagem: photo-ac.com

Consegue imaginar um lugar onde qualquer pessoa poderia ser médico sem ter estudado para isso? Seria um absurdo não é? No entanto, no período Edo, isso era uma realidade. Qualquer pessoa, independentemente de seu conhecimento prévio, poderia exercer a medicina.

E se essa pessoa fosse competente e ganhasse experiência na profissão, ela se tornaria muito respeitada e receberia benefícios que as pessoas comuns não tinham. Por exemplo; usar roupas de boa qualidade e viajar para a casa de seus pacientes em um elegante palanquim semelhante aos da classe dos samurais, cujo serviço também era pago por seus pacientes.

É claro que, ao exercer a profissão de médico sem o devido conhecimento, muitos erros certamente foram cometidos. Os diagnósticos eram dados geralmente “por intuição”. Eram poucos os que realmente tinham um vasto conhecimento sobre a medicina na época.

2- Banheiros com pouca privacidade

Imagem: photo-ac.com

No período Edo, os Sento (銭湯), banhos públicos, eram muito comuns, já que nas grandes cidades as pessoas costumavam viver em “Nagaya” (長屋), moradias coletivas que eram anexadas umas às outras, onde não havia banheiros e nem áreas para tomar banho.

Para poderem evacuarem, as pessoas em Edo (Tóquio) precisavam usar banheiros comunitários chamados “ Sōkōka ” (惣後架). Em Kyoto e Osaka, esse tipo de banheiro comunitário em Nagaya se chamava Sosechin (惣雪隠). A diferença entre eles é que Sōkōka tinha uma porta baixa, e quando a pessoa se agachava era possível ver a cabeça dela.

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Já no Sosechin, a porta costumava preencher até o topo, o que oferecia um pouco mais de privacidade para quem o usasse. Esses banheiros eram unissex e se caracterizavam por um buraco no chão onde as pessoas precisavam se agachar para fazerem suas necessidades.

Usar esse tipo de banheiro requeria muito cuidado para que o quimono não tocasse o chão. Nesta época como podemos imaginar, não havia nenhum tipo de saneamento básico e alguém que morava no nagaya era responsável em recolher as fezes. Além disso, para se limparem, as pessoas usavam varas de madeira chamadas chūgi (籌木) ou kusobera (糞箆).

3- Testando a Katana em corpos de criminosos

Imagem: photo-ac.com

Durante o período Edo surgiu uma prática no mínimo perturbadora. Esta prática consistia em testar o fio de novas espadas katana, cortando corpos sem vida de criminosos.

Quando um ferreiro fazia uma katana para alguém importante, antes de entregar a espada, ele a entregava a alguns espadachins experientes para fazerem uma espécie de teste de qualidade e assim verificar se a arma estava realmente pronta para ser entregue.

Na época do período Edo, esses testes eram perfeitamente endossados ​​pelo governo do xogunato, e só eram realizados por guerreiros experientes dentro da classe samurai. Mas é claro que, com o passar do tempo, essa prática foi abolida e, em vez de testar em criminosos, as espadas passaram a ser testadas em feixes de esteiras de bambu.

4- Filhas em troca de dinheiro

Imagem: Ryosuke Yagi (Flickr)

No período Edo, era comum quando alguém contraía uma grande dívida e era evidente que não teria como pagá-la, voluntária ou involuntariamente, acabavam vendendo suas filhas, que quase sempre eram enviadas para bordéis posteriormente quando atingissem uma certa idade.

Seja por não ter pago os altos impostos, seja por ter falido, seja por ter contraído uma grande dívida, enfim, para muitas famílias comuns daquela época a única e lamentável forma de se livrar de todos os problemas financeiros era renunciando a uma de suas filhas.

As moças eram levadas para os aposentos de lazer ou, com alguma sorte, para algum albergue de oiran onde seriam criadas até que sua dívida total fosse paga , ou até que seu contrato expirasse. Muitas dessas meninas infelizmente acabariam nos bairros vermelhos onde seriam “kamuro” (aprendizes de oiran) e, ao atingirem certa idade, tornavam-se uma delas.

5- Partos complicados

Imagem: ameblo.jp

No antigo Japão do período Edo, os partos eram muito diferentes do que são hoje. Quando uma mulher estava para dar à luz, era muito comum que ela fosse levada para uma sala especial de parto que havia em cada cidade, onde várias mulheres a atendiam para ter seu filho.

Quando a mulher chegava naquela sala de parto, elas a faziam sentar em uma almofada especial e a mulher que iria parir fazia força puxando uma corda que estava amarrada ao teto. Sim, pode parecer estranho, mas as mulheres daquela época davam à luz sentadas!

As cordas amarradas aos tetos das salas de parto eram conhecidas como “ Chikarazuna ” (力綱) e eram utilizadas para que as mulheres se ajudassem puxando-as no momento do parto. Infelizmente, devido à falta de higiene ou porque a medicina não era avançada naquela época, muitas mulheres perdiam a vida após o parto.

Por outro lado, um fato bastante desanimador é que naquela época a taxa de mortalidade infantil era extremamente elevada. A falta de higiene adequada , as doenças e certos produtos, como as maquiagens, que então se usavam (hoje sabidamente prejudiciais à saúde) complicavam muito as condições de vida.

6- Punições severas

Imagem: Wikimedia Commons

Embora o período Edo tenha sido uma época pacífica, as punições para os criminosos ou para as pessoas que cometeram um erro grave foram, sem dúvida, bastante extremas.

De guerreiros renomados a aldeões comuns, havia punições para todas as pessoas, independentemente de sua classe social. Os guerreiros samurais que cometeram um crime tiveram que tirar suas próprias vidas cometendo seppuku (切腹), ou ” Harakiri ” (腹切).

No entanto, as pessoas comuns não tinham permissão para fazer isso, mas se cometessem crimes eram punidas das maneiras mais horríveis que você possa imaginar.

” Se eu fizer você cometer um crime tão grave, você perderá a cabeça ” talvez fosse um conselho comum naquela época para aqueles que tinham a audácia de tentar fazer algo errado, como roubar, matar ou desobedecer a alguma regra. As punições mais severas eram a decapitação , mas os criminosos mais ousados ​​aguardavam a crucificação ou a tortura em público que naquela época contava com a plena aprovação da opinião do povo.

7- Incêndios abundantes

Xilogravura Ukiyo-e de Utagawa Hiroshige (1838–1840). Imagem: Honolulu Museum of Art

No período Edo, as pessoas usavam o fogo com muita frequência na vida cotidiana. O fogo era essencial para iluminar as casas à noite, para aquecer e cozinhar. Portanto, não é difícil imaginar que, em um descuido, um incêndio ocorreria com muita facilidade.

Nesta era do Japão, ocorreram mais incêndios do que podemos imaginar. Ocorreram incêndios tão grandes que se espalhavam rapidamente por toda a cidade de Edo (Tóquio), e foi a partir daí a cidade acabou ganhando o apelido de “A Cidade do Fogo” (火災都市).

Como o problema dos grandes incêndios era tão frequente, o governo da época tentava encontrar uma solução. Muitos homens da classe samurai e voluntários começaram a atuar como bombeiros, e as pessoas começaram a se conscientizar de como evita-los.

Eles até começaram a se revezar em cada cidade para que sempre houvesse uma pessoa caminhando pelos bairros à noite lembrando as pessoas para prestarem atenção para evitarem incêndios. Isso é visto com muita frequência em filmes inspirados neste período.

8- O pesadelo de ir ao dentista

Imagem: kdc.csj.jp

Assim como qualquer pessoa podia praticar medicina sem treinamento formal no Período Edo, você pode imaginar que os dentistas daquela época também eram pessoas sem estudo, que iam aprendendo e aprimorando sua profissão à medida que avançavam.

O povo daquela época tinha duas opções; Cuide bem da sua saúde bucal, ou não cuidar e depois sofrer uma extração de dente dolorida, sem qualquer tipo de anestesia.

Ninguém queria passar por isso, então os mais cautelosos procuraram uma maneira de manter os dentes em boas condições. Existia o ” Fusayōji ” (房楊枝), uma escova de dente que consistia em um palito de madeira com uma espécie de algodão na ponta na qual escovavam os dentes, passando alguma erva ou remédio natural com o objetivo de mantê-los saudáveis.

Quem sentisse dor de dente, chamava o dentista, que vinha até a casa do paciente e cobrava grandes somas de dinheiro. Como era muito caro, pessoas comuns procuravam outras maneiras de obter remédios que as ajudassem a aliviar um pouco a dor. Para alguns, a única alternativa era ir ao santuário e pedir aos deuses para que o dente parasse de doer.

9- Baixa expectativa de vida

Período Edo Nakanocho in the Yoshiwara District (Yoshiwara Nakanocho) from the series Famous Views of Edo (Edo meisho), 1842Xilogravura Ukiyo-e Yoshiwara Nakanocho (1842). Imagem: Wikimedia Commons

No período Edo a expectativa de vida era de 55 anos! E havia muito poucos que passavam dessa idade. Isso era consequência dos remédios pouco eficientes, do alto índice de mortalidade infantil e da falta de higiene que resultava em doenças muitas vezes.

Portanto, podemos ter a ideia de que naquela época a vida era um pouco mais breve. Aos 50 anos, já era considerado uma pessoa idosa. As mulheres já estavam se casando aos 16 anos e aos 20 já tinham vários filhos. Após os 25 anos, já eram consideradas mulheres maduras.

Esse fato é um contraste com os tempos atuais, onde o Japão é um país com as maiores expectativas de vida, além de ser o país com o maior número de centenários do mundo.

10- Diferenças gritantes entre as classes sociais

Xilogravura Ukyo-e de Chokosai Eisho (1615–1868). Imagem: Wikimedia Commons

No período Edo a diferença de classes sociais era muito evidente e o tratamento que cada pessoa recebia dependia muitas vezes disso. Entre as classes encontrava-se os samurai, os agricultores, os comerciantes, os artesãos e por último, os plebeus.

Algumas coisas eram reservadas apenas para a aristocracia. Um exemplo disso era a educação. As crianças que vinham de famílias comuns que não tinham acesso a uma educação formal, ao contrário dos filhos de famílias mais abastadas e de classe alta.

Felizmente havia os Terakoya, que eram instituições improvisadas construídas dentro dos templos, nas quais as crianças podiam ter a oportunidade de aprender a ler, escrever e fazer cálculos matemáticos para serem capazes de gerenciar seus negócios no futuro.

A medicina é outro ponto que vale a pena citar. Como havíamos dito, os preços dos remédios e das consultas médicas eram exorbitantes, de modo que os plebeus dificilmente tinham recursos para um tratamento. Além disso, assim como em outras culturas antigamente, as roupas, o corte de cabelo e até o meio de transporte eram diferentes de acordo com a classe social.

Como você pode ver, o período Edo foi um período de grandes contrastes e também muito importante para o desenvolvimento da cultura japonesa. Mas conhecendo esses fatos, sendo alguns deles perturbadores, vemos que a vida naquela época não teria sido muito simples.

Fonte: mirandohaciajapon.com

4 Comentários

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  2. Cristina maria ieda

    Muito interessante saber sobre a cultura de um país.tem toda uma história .vcs estão de Parabéns usam de uma linguagem simples que atende com clareza a todas as pessoas.

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