A história real por trás do filme ‘O Túmulo dos Vagalumes’ que você não conhece


A história real por trás do filme O Túmulo dos Vagalumes que você não conhece

Hotaru no Haka (O Túmulo dos Vagalumes) é baseado nas experiências vividas por Akiyuki Nosaka durante e após o bombardeio de Kobe em 1945. Mas a história real por trás do filme é um pouco diferente da ficção. Conheça sua história! 🙂

‘Hotaru no Haka’, conhecido no Brasil como ‘O Túmulo dos Vagalumes’, foi produzido pelo Studio Ghibli, sob a direção de Isao Takahata e lançado em 1988. Seu roteiro é baseado no romance semiautobiográfico de Akiyuki Nosaka, lançado 21 anos antes, em 1967.

O romance “Hotaru no Haka” (火垂るの墓) rendeu a Akiyuki Nosaka, o Prêmio Naoki de ‘melhor literatura popular’ junto com outra obra sua chamada “American Hijiki”. Além do filme de animação, Hotaru no Haka ganhou duas adaptações em live-action; em 2005 e em 2008.

O Túmulo dos Vagalumes conta a história de dois jovens irmãos japoneses que ficam órfãos por causa de ataques aéreos americanos em sua vila durante a Segunda Guerra Mundial. Depois que sua casa é destruída e sua mãe morta, o combate militar deixa de existir na tela.

Hotaru no Haka - Túmulo dos Vagalumes

A história passa a focar na sobrevivência, no amor, na família e oferece um panorama do caos que se instalou entre os cidadãos japoneses durante esse período. Como se vê, a animação é a maneira perfeita de transmitir a história. O estilo intenso e emocional da arte permite que as mensagens e o peso da história sejam transmitidos de forma precisa e eficaz.

Seu sucesso realmente é indiscutível – qualquer um que assista ao filme Hotaru no Haka será desafiado repetidamente a conter as lágrimas durante o decorrer da trama.

Roger Ebert escreveu : “Este filme prova, se for preciso provar, que a animação produz efeitos emocionais não ao reproduzir a realidade, mas ao realçá-la e simplificá-la, de modo que muitas das sequências são sobre ideias, não experiências… um dos maiores filmes de guerra já feitos.”

Hotaru no Haka - Túmulo dos Vagalumes

O aclamado filme é baseado em uma experiência da vida real – ou seja, a do escritor Akiyuki Nosaka, que faleceu em 2015. Seu livro é considerado parte das obras pós-Segunda Guerra Mundial que giram em torno das experiências de cidadãos japoneses comuns.

Vivenciar diariamente o medo causado pelas bombas e ataques aéreos criou uma nova era chamada Sengo (戦後), que se traduz como “pós-guerra”. Esse período valorizou o conceito de paz como forma de nunca mais deixar a devastação da guerra acontecer novamente. Foi uma era voltada para a reconstrução do país e no enfrentamento das consequências deixadas pela guerra.

A história que inspirou o Túmulo dos Vagalumes

Em 1941, Akiyuki Nosaka com sua irmã adotiva Kikuko, que faleceu por uma doença. Sua irmã mais nova, Keiko que nasceria depois, foi retratada em ‘O Túmulo dos Vagalumes’. Imagem: sankei.com

Foi isso que Nosaka tentou fazer enquanto escrevia o livro. Sua própria vida como um jovem adolescente espelhava os eventos angustiantes descritos no filme clássico de 1988. O escritor, assim como Seita, tinha uma irmã mais nova que morreu durante a guerra.

O início da vida de Nosaka foi repleto de experiências onde muitas perdas foram resultado da guerra. A mãe biológica de Nosaka faleceu após dar à luz sua irmã, e seu pai nunca manteve contato com eles. O menino logo foi adotado por sua tia, mas ela foi terrivelmente ferida pelas bombas, enquanto o pai adotivo de Nosaka morreu por causa das mesmas bombas.

Um pouco antes, uma de suas irmãs adotivas, Kikuko havia falecido ainda bebê por uma doença. Mas talvez a morte mais trágica que Nosaka vivenciou foi a de sua irmã adotiva mais nova.

Nosaka era um adolescente de 14 anos de idade quando sua irmã Keiko morreu de desnutrição antes de completar 2 anos. E o escritor se culpava por sua morte mesmo décadas depois.

A obra nasceu de um sentimento de culpa

Com os ataques à cidade de Kobe, Nosaka para cuidar de si e de sua irmã, precisou roubar comida e vender antigas heranças da família, passando pela casa de parentes e abrigos antibomba infestados de doença em busca de um teto para viverem, assim como no filme.

Embora Seita tratasse sua irmã com gentileza na ficção, isso não foi o que aconteceu na vida real de acordo com Nosaka. Com a comida cada vez mais escassa, ele acabava comendo a parte que deveria compartilhar com sua irmã, além de maltratá-la para fazê-la parar de chorar.

Nosaka, aos 14 anos, claramente não imaginava as consequências de seus atos. E quando Keiko faleceu sob seus cuidados, vítima de desnutrição, o jovem Nosaka sentiu-se extremamente triste e culpado. Sentimentos que ficaram guardados por quase 20 anos até que, já na vida adulta, ele conseguiu compartilhar suas duras experiências em Hotaru no Haka, lançado em 1967.

Ele criou uma versão de si mesmo mais ‘humanizada’

Hotaru no Haka - Túmulo dos Vagalumes

O conto Hotaru no Haka, surgiu então como forma de Nosaka se redimir pela culpa e tristeza. O livro era sua maneira de homenagear sua irmã, a quem ele sentia culpado por não ter feito mais por ela. Podemos dizer que o livro nasceu da sua necessidade de lidar com a tragédia.

As palavras que Nosaka escreveu não eram exatamente o que de fato aconteceu – mas um caminho para extravasar o luto, o sentimento de culpa e de fracasso pessoal de um adolescente que apesar de tudo conseguiu sobreviver em meio ao turbilhão da Segunda Guerra Mundial.

Apesar de Seita ser inspirado em si mesmo, Nosaka deu ao personagem traços heroicos que ele próprio não possuía. Assim como Seita, Nosaka também foi forçado a amadurecer rapidamente, e embora nem sempre tenha tomado decisões corretas, ele amava muito sua irmã.

Hotaru no Haka - O Túmulo dos Vagalumes

No filme, Seita não sobrevive por muito tempo após a morte de Setsuko. Na vida real, após a morte de Keiko, Nosaka se mudou para Tóquio, onde foi pego roubando e levado a um centro de detenção juvenil, onde testemunhou muitos de seus companheiros de prisão morrerem de fome.

Mais tarde ele se reencontrou com seu pai biológico que o acolheu. Anos depois, Nosaka chegou à Universidade Waseda, mas não completou o último ano. Ao longo de sua vida, Nosaka foi escritor, ativista e cantor. Ele sobreviveu até o ano de 2015, quando faleceu aos 85 anos.

Essa foi um pouco da história de Akiyuki Nosaka, cujas experiências de guerra foram retratadas em O Túmulo dos Vagalumes. Como podemos ver, há muitos paralelos e discrepâncias entre o que mostra a ficção e a realidade, mas nem por isso menos dolorosa e traumática.

Fontes: esquiremag.ph, the-take.com

5 Comentários

  1. Saulo dos Santos Mathias

    Muito triste a história bem como no anime

  2. Naomi Onga

    Minha mãe e família passaram esta época em kobe. Época muito triste!

  3. Alessandro

    História incrível. Obrigado por compartilhar.
    Agora, que tenho uma filhinha de dois meses, fiquei ainda mais sensibilizado.
    ‘O Túmulo dos Vagalumes’ é a prova de que a beleza artística pode ser criada a partir das maiores tristezas humanas.

  4. Igor

    Fiquei comovido com a história, ainda mais por se tratar de um fato histórico muito conhecido. Achei interessante mostrar o lado ruim da guerra levando em consideração o sofrimento ocorrido no Japão. Recomendo!

  5. Drik

    eu assisti com meu filho, ele é eu chramos

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